sábado, 5 de novembro de 2011

Antropólogo, Alfonso Cano se transformou em ideólogo das Farc

Ele assumiu a chefia rebelde em março de 2008 após a morte de 'Tirofijo'.

Cano era procurado por rebelião, terrorismo, homicídio e sequestro.



Alfonso Cano, um antropólogo que se destacou na época estudantil por seu compromisso social, acabou seus dias considerado como o maior ideólogo das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e encurralado nas selvas do sudoeste colombiano por permanentes bombardeios. Ele tinha 63 anos.
Guillermo León Sáenz, seu nome real, se pôs à frente das Farc em março de 2008 após a morte, por uma suposta deonça cardíaca, de Manuel Marulanda Vélez ou "Tirofijo", chefe histórico e fundador desse grupo rebelde.
Alfonso Cano durante entrevista à Reuters em abril de 2000 (Foto: Reuters)Alfonso Cano durante entrevista à Reuters em abril de 2000 (Foto: Reuters)
O Ministério da Defesa confirmou nesta sexta-feira (4) que Sáenz morreu em um bombardeio entre os departamentos de Cauca e Valle del Cauca.
 E é que desde o momento em que Rodrigo Londoño, conhecido como "Timochenko", um dos integrantes do secretariado geral da guerrilha mais antiga da Colômbia, anunciou a morte de "Tirofijo" e conseguinte designação de Cano, as autoridades começaram a insistir em que o novo chefe estava rodeado.
Inclusive, ele foi objeto de numerosos rumores que afirmavam que tinha sido abatido no meio de ações militares.
Cano nasceu em 22 de julho de 1948 em Bogotá no seio de uma família de classe média-alta, estudou antropologia na Universidade Nacional da capital colombiana e, até 2008, foi o chefe político do Bloco Ocidental e integrante do Secretariado (chefia máxima) das Farc.
Antes de ingressar nas filas da guerrilha, pertenceu ao Partido Comunista Colombiano como comissário político.

Desde o ano de 2000 era o responsável do Movimento Bolivariano da Nova Colômbia, um projeto político desta guerrilha, a maior da Colômbia e a mais antiga da América.
Alfonso Cano, de barba muito espessa e sempre com óculos redondos, tinha antes de sua morte 226 ordens de captura e uma circular vermelha da Polícia Internacional (Interpol) por rebelião, terrorismo, homicídio e sequestro.
Intransigente e convencido da inutilidade das negociações, representou às Farc nos diálogos frustrados com o governo do hoje ex-presidente colombiano César Gaviria (1990-1994), em Caracas, e na localidade mexicana de Tlaxcala, em 1991 e 1992.
Com mais de 30 anos de militância, Cano era considerado um dos ideólogos-chave das Farc, guerrilha que nasceu em 1964 como defensora dos direitos dos camponeses e que ao longo de sua história foi se transformando em um grupo opressor que sequestrou dezenas de pessoas.

Fonte: G1

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

O significado da vitória de Cristina

Todos os que seguem a situação argentina sabiam, desde pelo menos um ano e meio, que o governo de Cristina Kirchner havia recuperado grande apoio popular e teria continuidade, seja na presidência de Nestor, seja na dela. Só poderia ser “surpresa” para os que foram vítimas dos seus próprios clichês, denegrindo a imagem da Argentina e do seu governo. Agora não sabem como explicar uma vitória tão contundente, no primeiro turno, com uma diferença de mais de 8 milhoes de votos para o segundo colocado.

A vitória de Cristina tem o mesmo sentido da vitória de Dilma. Pela primeira vez, nos dois países, uma mesma corrente obtém, pelo voto popular, um terceiro mandato. Vitorias fundadas em políticas econômicasque permitiram a retomada do crescimento da economia – depois das recessões provocadas por governos neoliberais, Menem lá, FHC por aqui – articuladas estruturalmente com políticas sociais de distribuição de renda.

No caso argentino, a crise de 2005 aqui, foi a de 2008 lá, com a reação violenta dos produtores rurais ao projeto de lei de elevação do imposto de exportação. Em aliança com a conservadora classe media de Buenos Aires, fizeram com o que o governo perdesse parte substancial do seu apoio e terminasse derrotado na votação do Congresso. Essa derrota se desdobrou numa derrota eleitoral, quando ja se sentiam os efeitos da crise internacional.

Tal como aqui, a oposição acreditou que havia desferido um golpe mortal nos Kirchner e se preparava já para voltar ao governo, em meio a disputas enormes entre todas as suas tendências, unidas na oposição e na ambição de sucedê-los no governo.

Para surpresa da oposição, o governo reagiu positivamente – como aqui – diante dos efeitos da crise, com políticas anticíclicas e renovando suas políticas sociais. Os reflexos não tardaram a surgir e o governo passou a reconquistar apoio popular, até que, a partir do ano passado, tendo recuperado iniciativa, voltou a aparecer como o grande agente nacional contra a crise.

Dois fatores vieram consolidar essa reação. O primeiro, as comemorações do bicentenário da independência argentina, que despertou grande fervor popular, especialmente em amplos setores da juventude, capitalizados evidentemente pelo peronismo, com sua tradicional marca nacionalista.

O outro, foi a súbita morte de Nestor Kirchner, que alguns previram – lá e cá – que seria um golpe definitivo no kirchnerismo. Nesse momento Cristina se assumiu como estadista à altura daquele momento crucial da historia argentina, dado que Nestor era o candidato à sua sucessão e o maior dirigente político do processo que ele mesmo havia iniciado.

Cristina fez daquela perda um momento de afirmação do processo político protagonizado por Nestor e por ela, no bojo da recuperação do apoio popular, que tinha seu fundamento no sucesso das novas iniciativas de políticas sociais – bolsas para a infância, para a terceira idade, para os desempregados, entre outras iniciativas.

Enquanto isso a oposição se digladiava, conforme via a recuperação do prestígio do governo, na disputa pela sucessão presidencial, em um processo suicida, que veio complementar o cenário politico que foi tornando Cristina cada vez mais favorita para triunfar, até mesmo no primeiro turno.

As prévias eleitorais de agosto, finalmente, cristalizaram todas essas tendências, permitindo prever as melhores perspectivas para Cristina, que se confirmaram plenamente nas eleições de ontem. Cristina teve um triunfo esmagador, além de recuperar a maioria na Camara e aumentar no Senado, e eleger oito dos nove governos estaduais em jogo.

Ela triunfa e a oposição, dividida entre vários candidatos, sofre sua maior derrota, deixando o campo aberto para novos e grandes avanços do governo. Lá como aqui, a segunda década do século XXI estende a vigência de um governo que busca alternativas de superação do neoliberalismo, nas condições da herança pesada que ambos receberam, avançando na direção do posneoliberalismo.

Consolida-se o campo progressista latino-americano, confirmando que essa é a vida das forcas populares para a superação das desigualdades e injustiças, para o fortalecimento da integração regional e para a afirmação de uma América Latina soberana.

Fonte: Carta Maior - Blog Emir Sader

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Nouriel Roubini: “Karl Marx estava certo”

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Nouriel Roubini: “Karl Marx estava certo”

Na avaliação de Nouriel Roubini, professor de economia na Universidade de Nova York, a não ser que haja outra etapa de massivo incentivo fiscal ou uma reestruturação da dívida universal, o capitalismo continuará a experimentar uma crise, dado o seu defeito sistêmico identificado primeiramente por Karl Marx há mais de um século. Roubini, que há quatro anos previu a crise financeira global diz que uma das críticas ao capitalismo feitas por Marx está se provando verdadeira na atual crise financeira global.

Joseph Lazzaro - The International Business Time
Há um velho axioma que diz que “sábia é a pessoa que aprecia a sinceridade quase tanto como as boas notícias”, e com ele como guia, situa decididamente o futuro na categoria da sinceridade.

O professor de economia da Universidade de Nova York, doutor Nouriel “Dr. Catástrofe” Roubini disse que, a não ser que haja outra etapa de massivo incentivo fiscal ou uma reestruturação da dívida universal, o capitalismo continuará a experimentar uma crise, dado o seu defeito sistêmico identificado primeiramente pelo economista Karl Marx há mais de um século.

Roubini, que há quatro anos previu acuradamente a crise financeira global disse que uma das críticas ao capitalismo feitas por Marx está se provando verdadeira na atual crise financeira global.

A crítica de Marx em vigor, agora
Dentre outras teorias, Marx argumentou que o capitalismo tinha uma contradição interna que, ciclicamente, levaria a crises e isso, no mínimo, faria pressão sobre o sistema econômico. As corporações, disse Roubini, motivam-se pelos custos mínimos, para economizar e fazer caixa, mas isso implica menos dinheiro nas mãos dos empregados, o que significa que eles terão menos dinheiro para gastar, o que repercute na diminuição da receita das companhias.

Agora, na atual crise financeira, os consumidores, além de terem menos dinheiro para gastar devido ao que foi dito acima, também estão motivados a diminuírem os custos, a economizarem e a fazerem caixa, ampliando o efeito de menos dinheiro em circulação, que assim não retornam às companhias.

“Karl Marx tinha clareza disso”, disse Roubini numa entrevista ao The Wall Street Journal: "Em certa altura o capitalismo pode destruir a si mesmo. Isso porque não se pode perseverar desviando a renda do trabalho para o capital sem haver um excesso de capacidade [de trabalho] e uma falta de demanda agregada. Nós pensamos que o mercado funciona. Ele não está funcionando. O que é racional individualmente ... é um processo autodestrutivo”.

Roubini acrescentou que uma ausência forte, orgânica, de crescimento do PIB – coisa que pode aumentar salários e o gasto dos consumidores – requer um estímulo fiscal amplo, concordando com outro economista de primeira linha, o prêmio Nobel de economia Paul Krugman, em que, no caso dos Estados Unidos, o estímulo fiscal de 786 bilhões de dólares aprovado pelo Congresso em 2009 era pequeno demais para criar uma demanda agregada necessária para alavancar a recuperação da economia ao nível de uma auto expansão sustentável. 

Na falta de um estímulo fiscal adicional, ou sem esperar um forte crescimento do PIB, a única solução é uma reestruturação universal da dívida dos bancos, das famílias (essencialmente das economias familiares), e dos governos, disse Roubini. No entanto, não ocorreu tal reestruturação, comentou.

Sem estímulo fiscal adicional, essa falta de reestruturação levou a “economias domésticas zumbis, bancos zumbis e governos zumbis”, disse ele.

Fora o estímulo fiscal ou a reestruturação da dívida, não há boas escolhas

Os Estados Unidos, disse Roubini, pode, em tese: a) crescer ele mesmo por fora do atual problema (mas a economia está crescendo devagar demais, daí a necessidade de mais estímulo fiscal); ou b) retrair-se economicamente, a despeito do mundo (mas se muitas companhias e cidadãos o fizerem junto, o problema identificado por Marx é ampliado); ou c) inflacionar-se (mas isso gera um extenso dano colateral, disse ele). 

No entanto, Roubini disse que não pensa que os EUA ou o mundo estão atualmente num ponto em que o capitalismo esteja em autodestruição. “Ainda não chegamos lá”, disse Roubini, mas ele acrescentou que a tendência atual, caso continue, “corre o risco de repetir a segunda etapa da Grande Depressão”—o erro de ‘1937’. 

Em 1937, o presidente Franklin D. Roosevelt, apesar do fato de os primeiros quatro anos de massivo incentivo fiscal do New Deal ter reduzido o desemprego nos EUA, de um cambaleante 20,6% na administração Hoover no começo da Grande Depressão, a 9,1%, foi pressionado pelos republicanos congressistas – como o atual presidente Barack Obama fez com o Tea Party, que pautou a bancada republicana no congresso em 2011 – , rendeu-se aos conservadores e cortou gastos do governo em 1937. O resultado? O desemprego estadunidense começou o ano de 1938 subindo de novo, e bateu a casa dos 12,5%. 

Cortar os gastos do governo prematuramente feriu a economia dos EUA em 1937, ao reduzir a demanda, e Roubini vê o mesmo padrão ocorrendo hoje, ao se seguir as medidas de austeridade implementadas pelo acordo da dívida implemented by the U.S. debt deal act.

Roubini também argumenta que os levantes sociais no Egito e em outros países árabes, na Grécia e agora no Reino Unido têm origem econômica (principalmente no desemprego, mas também, no caso do Egito, no aumento do custo de vida). Em seguida, argumenta que, ao passo que não se deve esperar um colapso iminente do capitalismo, ou mesmo um colapso da sua versão estadunidense, o capitalismo corporativo – capitalismo e mercados livres são rápidos demais e capazes de se adaptarem - dizer que a ordem econômica atual não está experimentando uma crise não é correto.

Fonte: http://www.ibtimes.com/articles/197468/20110813/roubini-nouriel-roubini-dr-doom-financial-crisis-debt-crisis-europe.htm

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

O complexo de vira-lata




Até os jornais brasileiros tiveram de noticiar. Uma força-tarefa criada pelo Conselho de Relações Exteriores, organização estreitamente ligada ao establishment político/intelectual/empresarial dos Estados Unidos, acaba de publicar um relatório exclusivamente dedicado ao Brasil, -pontuado de elogios e manifestações de respeito e consideração. Fizeram parte da força-tarefa um ex-ministro da Energia, um ex-subsecretário de Estado e personalidades destacadas do mundo acadêmico e empresarial, além de integrantes de think tanks, homens e mulheres de alto conceito, muitos dos quais estiveram em governos norte-americanos, tanto democratas quanto republicanos. O texto do relatório abarca cerca de 80 páginas, se descontarmos as notas biográficas dos integrantes da comissão, o índice, agradecimentos etc. Nelas são analisados vários aspectos da economia, da evolução sociopolítica e do relacionamento externo do Brasil, com natural ênfase nas relações com os EUA. Vou ater-me aqui apenas àqueles aspectos que dizem respeito fundamentalmente ao nosso relacionamento internacional.
Logo na introdução, ao justificar a escolha do Brasil como foco do considerável esforço de pesquisa e reflexão colocado no empreendimento, os autores assinalam: “O Brasil é e será uma força integral na evolução de um mundo multipolar”. E segue, no resumo das conclusões, que vêm detalhadas nos capítulos subsequentes: “A Força Tarefa (em maiúscula no original) recomenda que os responsáveis pelas políticas (policy makers) dos Estados Unidos reconheçam a posição do Brasil como um ator global”. Em virtude da ascensão do Brasil, os autores consideram que é preciso que os EUA alterem sua visão da região como um todo e busquem uma relação conosco que seja “mais ampla e mais madura”. Em recomendação dirigida aos dois países, pregam que a cooperação e “as inevitáveis discordâncias sejam tratadas com respeito e tolerância”. Chegam mesmo a dizer, para provável espanto dos nossos “especialistas” – aqueles que são geralmente convocados pela grande mídia para “explicar” os fracassos da política externa brasileira dos últimos anos – que os EUA deverão ajustar-se (sic) a um Brasil mais afirmativo e independente.
Todos esses raciocínios e constatações desembocam em duas recomendações práticas. Por um lado, o relatório sugere que tanto no Departamento de Estado quanto no poderoso Conselho de Segurança Nacional se proceda a reformas institucionais que deem mais foco ao Brasil, distinguindo-o do contexto regional. Por outro (que surpresa para os céticos de plantão!), a força-tarefa “recomenda que a administração Obama endosse plenamente o Brasil como um membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas. É curioso notar que mesmo aqueles que expressaram uma opinião discordante e defenderam o apoio morno que Obama estendeu ao Brasil durante sua recente visita sentiram necessidade de justificar essa posição de uma forma peculiar. Talvez de modo não totalmente sincero, mas de qualquer forma significativo (a hipocrisia, segundo a lição de La Rochefoucault, é a homenagem que o vício paga à virtude), alegam que seria necessária uma preparação prévia ao anúncio de apoio tanto junto a países da região quanto junto ao Congresso. Esse argumento foi, aliás, demolido por David Rothkopf na versão eletrônica da revista Foreign Policy um dia depois da divulgação do relatório. E o empenho em não parecerem meros espíritos de porco leva essas vozes discordantes a afirmar que “a ausência de uma preparação prévia adequada pode prejudicar o êxito do apoio norte-americano ao pleito do Brasil de um posto permanente (no Conselho de Segurança)”.
Seguem-se, ao longo do texto, comentários detalhados sobre a atuação do Brasil em foros multilaterais, da OMC à Conferência do Clima, passando pela criação da Unasul, com referências bem embasadas sobre o Ibas, o BRICS, iniciativas em relação à África e aos países árabes. Mesmo em relação ao Oriente Médio, questão em que a força dos lobbies se faz sentir mesmo no mais independente dos think tanks, as reservas quanto à atuação do Brasil são apresentadas do ponto de vista de um suposto interesse em evitar diluir nossas credenciais para negociar outros itens da agenda internacional. Também nesse caso houve uma “opinião discordante”, que defendeu maior proatividade do Brasil na conturbada região.
Em resumo, mesmo assinalando algumas diferenças que o relatório recomenda sejam tratadas com respeito e tolerância, que abismo entre a visão dos insuspeitos membros da comissão do conselho norte-americanos- e aquela defendida por parte da nossa elite, que insiste em ver o Brasil como um país pequeno (ou, no máximo, para usar o conceito empregado por alguns especialistas, “médio”), que não deve se atrever a contrariar a superpotência remanescente ou se meter em assuntos que não são de sua alçada ou estão além da sua capacidade. Como se a Paz mundial não fosse do nosso interesse ou nada pudéssemos fazer para ajudar a mantê-la ou obtê-la.


Fonte: http://www.cartacapital.com.br/politica/a-obsessao-e-o-complexo-de-vira-lata

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Dilma acompanha posse do novo presidente do Peru

Dilma chegou à cerimônia acompanhada por presidentes sul-americanos.
À tarde, presidente brasileira participa de reunião da Unasul, em Lima. 

A presidente Dilma Rousseff participou nesta quinta-feira (28) da cerimônia de posse do presidente do Peru, Ollanta Humala. Dilma chegou ao Congresso de La Republica, em Lima, por volta das 12h20 (horário de Brasília), onde assistiu ao discurso de posse do novo presidente do Peru.
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Dilma no Peru (Foto: Pilar Olivares/Reuters)Dilma e presidentes sul-americanos na cerimônia de posse de Ollanta HUmala, em Lima, no Peru (Foto: Pilar Olivares/Reuters)
Na chegada, Dilma Rousseff passou em revista a tropas peruanos, acompanhada de autoridades brasileiras e outros presidentes sul-americanos como José Mujica (Uruguai), Cristina Kirchner (Argentina), Rafael Correa (Equador) e Evo Morales (Bolívia).
Em seu discurso, o presidente Humala reforçou a importância do intercâmbio e da parceria com outras nações da América do Sul. Humala é o primeiro esquerdista no poder no Peru desde 1975, quando ocorreu a queda do general Juan Velasco Alvarado, que chegou ao poder através de um golpe de Estado em 1968.

O novo presidente substitui no cargo o populista de direita Alan García, que não assistiu à cerimônia de posse para evitar vaias, segundo afirmou há alguns dias.
A cerimônia de posse de Humala é a primeira da qual a presidente Dilma participa desde o início do mandato, em janeiro.
A programação de posse inclui um almoço com os chefes de estado na residência oficial de Humala. Ela desembarcou na capital peruana na noite desta quarta (27) para as festividades de de posse do presidente do país Ollanta Humala.
Presidente do Brasil se reúne com outros chefes da estado da Unasul nesta quinta (28), em Lima (Foto: Pilar Olivares/Reuters)Presidente Dilma se reúne com outros chefes da
estado da Unasul nesta quinta (28), em Lima (Foto:
Pilar Olivares/Reuters)
Na tarde desta quinta, Dilma participa da reunião da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), em Lima, no Peru. A reunião do grupo que reúne 12 países da América do Sul foi marcada para discutir a necessidade de integração da região, diante dos problemas econômicos enfrentados por Estados Unidos e países da União Europeia.
A primeira viagem depois de eleito feita por Ollanta Humala foi para o Brasil, em junho, apenas quatro dias após a eleição. O nacionalista peruano se reuniu com a presidente Dilma, em Brasília, e afirmou que os programas sociais brasileiros são um “modelo” para seu governo.
“É o primeiro país que estamos visitando na condição de presidente eleito, e a mensagem é que o Brasil é sócio estratégico, sócio importante. [...] Reconhecemos que o Brasil é um modelo exitoso que obteve crescimento econômico com estabilidade macroeconômica e inclusão social”, afirmou Humala na ocasião.

Fonte: http://g1.globo.com/politica/noticia/2011/07/dilma-acompanha-posse-do-novo-presidente-do-peru.html

 

Mistura de raças do Brasil é catastrófica, escreveu atirador da Noruega

Texto publicado na internet liga mistura de raças a desigualdade social.
Brasil seria exemplo de 'alto nível de corrupção e falta de produtividade'.

 

A política de estabelecer uma mistura de raças europeias, asiáticas e africanas em países como o Brasil se provou “catastrófica” e resultou em altos níveis de corrupção, baixa produtividade e conflitos entre as diferentes culturas.
A teoria sobre o país está numa das páginas do manifesto atribuído a Andrew Behring Breivik, o norueguês de 32 anos que assumiu a autoria dos atentados que mataram ao menos 76 pessoas em Oslo, na última sexta (22).

Para o autor do documento, que tem ligações com a extrema-direita norueguesa, o “Brasil vem se estabelecendo como o segundo país do mundo com o menor nível de igualdade social". O texto não cita qual seria o primeiro.

“Os resultados são evidentes e se manifestam num alto nível de corrupção, falta de produtividade e um eterno conflito entre várias ‘culturas’ competindo, enquanto a miríade de ‘sub-tribos’ criadas (preto, mulato, mestiço, branco) paralisa qualquer esperança de sequer alcançar o mesmo nível de produtividade e igualdade de, por exemplo, Escandinávia, Alemanha, Coreia do Sul e Japão”, diz o texto do terrorista de extrema-direita na página 1.153.

Observando a falta de igualdade social no Brasil e a média de produtividade do brasileiro, continua o texto, “é evidente que uma abordagem similar na Europa seria devastadora e um atraso para as nações (...)”.
Intitulado “A European Delaration of Independence - 2083" (Uma declaração de Independência Europeia - 2083), o manifesto, que leva a assinatura "Andrew Berwick" na capa, foi publicado na internet apenas horas antes do massacre no país. Com várias referências históricas, o manifesto inclui numerosos detalhes da personalidade do agressor, seu modus operandi para fabricar bombas e seu treinamento de tiro, além de um minucioso diário dos três meses que precederam o ataque.

As afirmações que relacionam raça e produtividades estão no trecho em que o autor trata das “razões por trás da oposição conservador à mistura de raças e adoção de não-europeus”. Em outro trecho, na página 1.161, o texto volta a citar o Brasil como exemplo de desigualdade social.

“(...) Um país que tem culturas que competem entre si vai acabar se dividindo internamente ou, a longo prazo, vai terminar como um lugar permanentemente disfuncional como o Brasil e outros países semelhantes”, diz. “Quando você acrescenta o Islã a esta mistura, o pior cenário muda de um país disfuncional para o fracasso total; a sharia [lei islâmica] e disputa entre povos”.

Acidente em GoiâniaHá pelo menos 12 referências aos termos “Brasil” ou “brasileiro” no documento, nem todas com o mesmo teor. No trecho em que trata sobre a fabricação de bombas, o autor cita o acidente radioativo com o césio 137 em Goiânia, que deixou centenas de mortos em 1987. “Seja extremamente cuidadoso quando lidar com material radiológico”, alerta na página 1.060.

Na página 1.287, o texto cita o Brasil em meio a países que se tornaram independentes com “golpes de estado sem sangue”. “Em 1889, o Brasil se tornou uma república via um golpe de estado sem sangue.” Em outra menção, o país está numa lista de nações que sofreram intervenções dos Estados Unidos. A anotação cita o ano de 1964 ao lado de “Acesso do comunismo a recursos e trabalhadores pobres”.

Fonte: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2011/07/mistura-de-racas-do-brasil-e-catastrofica-diz-texto-de-atirador-da-noruega.html

Atirador norueguês vê ‘bastardização’ do Brasil como risco à Europa.

Anders Breivik | Foto: Reprodução
Igor Natusch
Em um manifesto publicado na internet, o terrorista norueguês Anders Behring Breivik usa o Brasil para justificar os ataques que mataram 76 pessoas na Noruega na última sexta-feira (22). Trechos do documento de cerca de 1600 páginas, no qual constam informações sobre a ideologia de Breivik e os preparativos para os ataques, retratam o Brasil como um exemplo do que poderia acontecer na Europa caso não fosse evitado o “genocídio das tribos nórdicas” por meio da “diluição” de seu genótipo em outras etnias. Para o terrorista, o Brasil vive uma “revolução marxista” e sofreu um processo de “bastardização”.

“A alternativa é um modelo de bastardização continuada, muito similar ao modelo brasileiro”, diz Breivik em seu manifesto, batizado “2086 – Uma declaração europeia de independência”. Segundo ele, a mescla de europeus, africanos e asiáticos em nosso país seria “devida à Revolução Marxista brasileira”, que facilitou a “mescla de raças generalizada” em nosso país. “Os resultados foram catastróficos”, escreve o terrorista.
Segundo ele, o grau de coesão social do Brasil é “baixíssimo”, ocasionando corrupção, baixa produtividade e eterna competição entre as diferentes culturas e “sub-tribos” como mulatos e mestiços. “Não há nenhuma esperança de alcançarem o mesmo nível de produtividade e harmonia da Escandinávia, Alemanha, Coreia do Sul ou Japão”, conclui. Em outro momento, o documento defende que “culturas conflitantes” prejudicam a “unidade da tribo”, criando países “permanentemente disfuncionais” como o Brasil.
O Brasil é citado em outros trechos do documento, constantemente atualizado na web e que recebeu os últimos acréscimos cerca de duas horas antes dos ataques. Em dado momento, explicando sobre os “riscos na manipulação de material radioativo”, ele adverte que os “cavaleiros da justiça” (termo que usava para referir-se aos que deveriam combater a influência islâmica e comunista) devem ser cautelosos, dando como exemplo o incidente envolvendo Césio-127 em Goiânia, em 1987.
Anders Behring Breivik foi preso na sexta-feira após atirar sobre mais de 100 pessoas em um acampamento do Partido Trabalhista em Utoya, na Noruega. Segundo o último levantamento da polícia norueguesa, 68 pessoas foram mortas na ilha, a maior parte adolescentes. Outras oito pessoas foram mortas na explosão de um carro-bomba na frente da sede do governo norueguês, ocorrida cerca de uma hora e meia antes do ataque em Utoya.
Segundo autoridades norueguesas, Breivik – que assina o documento sob o pseudônimo Andrew Berwick – é um islamófobo e anticomunista. Os ataques teriam sido perpetrado para impedir a continuidade do governo do trabalhista Jens Stoltenberg e convocar a Europa a lutar contra a invasão islâmica e o multiculturalismo. O terrorista compareceu na manhã desta segunda diante da Corte norueguesa, que o acusou formalmente de atos terroristas e determinou prisão preventiva de oito semanas.

Fonte: http://sul21.com.br/jornal/2011/07/terrorista-noruegues-ve-bastardizacao-do-brasil-como-risco-a-europa/

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Derrota dos EUA: vitória de Humala desfaz Aliança do Pacífico

Os EUA procuraram contrariar o programa do Brasil de construção de estruturas regionais como a Unasul e o Mercosul, criando a Aliança do Pacífico do México, da Colômbia, do Chile e do Peru, baseada em acordos de livre-comércio. Além disso, a Colômbia, o Peru, e o Chile promoveram um projecto de criação de uma bolsa de valores integrada. E as forças armadas do Peru ligaram-se ativamente ao Comando Sul do Exército dos EUA. Com a eleição de Humala, a contra-ofensiva geopolítica dos EUA, a Aliança do Pacífico, está desfeita. O artigo é de Immanuel Wallerstein.


Ollanta Humala foi eleito presidente do Peru em 5 de junho de 2011. O único verdadeiro derrotado nestas eleições foram os Estados Unidos, cuja embaixadora, Rose Likins, mal conseguiu disfarçar o fato de ter feito campanha pela adversária de Humala no segundo turno, Keiko Fujimori. Que estava em jogo nestas cruciais eleições latino-americanas?

O Peru é um país-chave na geopolítica da América do Sul por várias razões: o seu tamanho, o seu legado do império Inca, a sua localização como uma das fontes do Rio Amazonas, os seus portos no Oceano Pacífico, e a sua história recente como o palco de uma importante luta entre forças nacionalistas e elites pró-americanas.

Em 1924, Vitor Raúl Haya de la Torre, um intelectual peruano e marxista – de um marxismo bastante heterodoxo - fundou a Aliança Revolucionária Popular Americana (APRA), com a intenção de a tornar numa organização anti-imperialista pan-americana. A APRA floresceu no Peru, apesar de ter sido severamente reprimida. O que a APRA tinha de original, e diferente da maior parte dos movimentos de esquerda nas Américas, era a sua compreensão de que a maioria do campesinato do Peru era composta de povos indígenas de fala quechua que tinham sido sistematicamente excluídos da participação política e dos direitos culturais. Depois de 1945, a APRA começou a perder um pouco do seu viés radical, mas manteve uma base popular forte. Só a morte de Haya de la Torre evitou a sua eleição como presidente em 1980.

Os governos de Peru permaneceram em mãos conservadoras até 1968, quando escândalos motivados pelos contratos de petróleo foram a faísca de um golpe militar desferido por oficiais nacionalistas dirigidos pelo General Juan Velasco Alvarado. Eles apoderaram-se do poder e instauraram um Governo Revolucionário das Forças Armadas.

O governo Velasco nacionalizou as jazidas de petróleo e múltiplos outros setores da economia. Investiu pesadamente na educação. Mais do que isso, tornou-a bilingue, elevando o quechua a um estatuto de igualdade com o castelhano. O governo lançou programas de reforma agrária e de industrialização para substituir as importações.

A sua política externa virou acentuadamente à esquerda. O Peru cultivou boas relações com Cuba e comprou equipamento militar à União Soviética. Depois de Pinochet derrubar o governo Allende no Chile em 1973, as relações entre o Peru e o Chile tornaram-se tensas. Falou-se mesmo de guerra, até que, em 1975, Velasco Alvarado foi deposto por forças militares conservadoras. E o Peru pôs assim fim ao seu período de sete anos de nacionalismo liderado por militares, com um programa socioeconómico de esquerda.

Quando Alan García, como líder da APRA, foi eleito presidente em 1985, retomou brevemente a tradição de esquerda propondo uma moratória na dívida externa. Mas este esforço foi bloqueado, e logo García virou à direita e abraçou o neoliberalismo. O Peru nesta época enfrentou várias insurreições, a mais famosa das quais foi a do Sendero Luminoso, que tinha a sua base nas regiões andinas dos camponeses Quechua e Aymara.

Nas eleições de 1990, um então já muito impopular García enfrentou o famoso escritor, pensador conservador e aristocrata Mario Vargas Llosa, que se candidatou apresentando uma plataforma económica puramente neoliberal. Inesperadamente, um peruano pouco conhecido de origem japonesa, Alberto Fujimori, derrotou as outras duas alternativas. A força de Fujimori derivava em grande parte da rejeição por parte do eleitorado do estilo aristocrático de Vargas Llosa.

Fujimori revelou um estilo duro e ditatorial, e usou com sucesso o exército para esmagar o Sendero Luminoso, assim como grupos insurreccionais urbanos. Para garantir o poder, Fujimori não hesitou em fechar o Congresso, interferir no poder judiciário, e ampliar o seu segundo mandato. Mas o elevado grau de corrupção e de poder arbitrário levaram ao seu derrube. Fujimori fugiu para o Japão. Mais tarde foi extraditado do Chile, julgado pelos seus crimes num tribunal peruano, e condenado a uma longa pena de prisão.

O seu sucessor em 2001, Alejandro Toledo, deu continuidade ao programa neoliberal. E, em 2006, Alan García candidatou-se novamente à Presidência. Enfrentou um ex-oficial militar, Ollanta Humala, que foi abertamente apoiado por Hugo Chávez, um apoio que prejudicou as suas perspectivas, bem como os ataques que sofreu à sua prática como oficial de exército no que dizia respeito aos direitos humanos. García ganhou, e prosseguiu e ampliou a via neoliberal. A economia floresceu devido ao boom mundial de exportações de energia e de minérios. Mas a massa da população ficou alheia aos benefícios. Tipicamente, o governo permitiu que corporações transnacionais se apoderassem de terras na região amazônica para explorar os seus recursos minerais. Os movimentos indígenas resistiram, e ocorreu um massacre em Junho de 2009, chamado o Baguazo.

Foi neste último período que o Peru se tornou o centro de duas disputas geopolíticas. Uma foi entre o Brasil e os Estados Unidos. Sob a presidência de Lula, o Brasil lutara com êxito considerável para promover a autonomia sul-americana, através da construção de estruturas regionais como a UNASUL e o Mercosul. Os Estados Unidos procuraram contrariar o programa do Brasil criando a Aliança do Pacífico do México, da Colômbia, do Chile e do Peru, baseada em acordos de livre-comércio com os Estados Unidos. Além disso, a Colômbia, o Peru, e o Chile promoveram um projecto de criação de uma bolsa de valores integrada, cuja sigla em espanhol é MILA. E as forças armadas do Peru ligaram-se ativamente ao Comando Sul do Exército dos Estados Unidos.

A segunda disputa geopolítica foi entre a China e os Estados Unidos na busca de obter acesso privilegiado aos minérios e aos recursos energéticos da América do Sul. O Peru mais uma vez foi um país-chave.

Houve três fatores que levaram à vitória de Humala nestas eleições de 2011. Por um lado, Humala virou-se aberta e publicamente para uma via social-democrata à brasileira. Não fez qualquer menção a Chávez. Humala encontrou-se muitas vezes com Lula e falou de o Peru se tornar "um parceiro estratégico" do Mercosul.

O segundo fator decisivo foi o apoio muito forte que recebeu de Vargas Llosa. O aristocrata conservador disse que para o Peru seria uma catástrofe eleger a filha de Fujimori, que libertaria o pai da prisão e daria continuidade aos seus métodos pouco recomendáveis. Vargas Llosa provocou uma séria divisão nas forças conservadoras.

O terceiro fator foi a atitude da esquerda peruana, que há muito tempo tinha reservas em relação a Humala. Como Oscar Ugarteche, um importante intelectual, escreveu para agência de imprensa latino-americana Alai-AmLatina, "para todos, Humala é uma interrogação, mas Fujimori é uma certeza."

Ugarteche resumiu a eleição dizendo que "o que é mais significativo, contudo, é o regresso do Peru à América do Sul." Veremos até que ponto Humala será capaz de chegar em termos de redistribuição de rendimentos e de restauração dos direitos da maioria indígena. Mas a contra-ofensiva geopolítica dos Estados Unidos, a Aliança do Pacífico, está desfeita.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

A vitória de Ollanta

“Quando se estrepou o Peru?”, pergunta um personagem ao amigo, no notável novela de Vargas Llosa, Conversas na Catedral. Os dois dão por estabelecido que o Peru tinha se estrepado. Se tratava somente de saber quando. Embora escrito há mais de quatro décadas (1969), na fase melhor da obra do Nobel peruano, poderia incluir o que o país viveu até agora.

A vitória de Ollanta Humala para a presidência do Peru fecha um longo ciclo de governos neoliberais e abre novas perspectivas para o país, ao mesmo tempo que fortalece o campo dos processos de integração regional e enfraquece a precipitada operação de construção de um eixo neoliberal, com o México, a Colômbia e o Chile, em contraposição aos governos posneoliberais.

O governo nacionalista de Velasco Alvarado (1968-1975) foi seguido de uma serie de governos que buscaram desarticular os avanços do governo de Velasco, tanto no plano da reforma agrária, quanto na construção de um projeto nacional no Peru. Foi derrubado por um golpe militar dado por um ministro seu , Morales Bermudez, que governou até 1980.

Foi sucedido por Alan Garcia (1985-1990), do partido mais estruturado do Peru, o Apra, que tentou uma moratória da divida externa peruana, não recebeu sequer apoio de governos da região, não conseguiu controlar a inflação e caiu, sem apoio interno. Na sua sucessão se digladiaram Vargas Llosa, com um programa claramente neoliberal, e o desconhecido Alberto Fujimori, que se valeu da rejeição do estilo aristocrático do escritor, para triunfar.

No governo, Alberto Fujimori (1990-2000) assumiu um projeto de contrainsurgencia que, ao mesmo tempo que combatia a guerrilha do Sendero Luminoso, destruía a espinha dorsal do forte movimento popular peruano, tanto no campo, quanto na cidade. Entre as ações do Sendero – que atacaram também as forças populares que não se submetiam à sua ação - e as ações do Exercito, o movimento popular peruano sofreu, sob um fogo cruzado, ações demolidoras, que o reduziu à uma expressão mínima. Fujimori deu um golpe, fechou o Congresso e interveio na Justiça (para o que recebeu, vergonhosamente para nós, o apoio de FHC), estendeu seu mandato, mas terminou caindo por processos de corrupção e violência, pelo que, depois de fugir para o Japão, foi condenado a 23 anos de prisão, cumprindo atualmente a pena.

Foi a partir dessa destruição da capacidade de defesa e resistência do movimento popular que se erigiu o projeto neoliberal no Peru, mediante os governos de Fujimori, Toledo (2001-2006) e Alan Garcia (2006-2011) cobrindo um período de mais de 20 anos, em que a economia peruana voltou a crescer, em base a uma extensa exploração extrativista exportadora das riquezas do pais, centrada no ingresso maciço de empresas estrangeiras. As condições não poderiam ser melhores para essas empresas, dado que a tributação geral no país gira em torno de 15% do PIB, sem recursos para que os governos fizessem políticas sociais.

Repetiu-se assim com Fujimori, Toledo e Alan Garcia, o mesmo padrão de governo: continuidade do alto crescimento do PIB, centrado na exportação de minerais – ouro, zinco, cobre, gás, basicamente -, sem políticas sociais, com governos que, eleitos, perdiam popularidade de forma estrepitosa, seja pela corrupção que os envolveu a todos, seja pela falta de políticas sociais redistributivas.

Na eleição anterior se enfrentaram o projeto nacionalista de Ollanta Humala e Alan Garcia. Valendo-se de forte campanha de medo, depois que Ollanta havia triunfado no primeiro turno, com o apoio explícito de Hugo Chávez, Garcia triunfou por pequena margem e voltou ao governo, desta vez para dar continuidade aos programas neoliberais de seus antecessores e sofrer o mesmo tipo de desgaste. No final do seu governo, já com menos de 10% de apoio, Toledo havia assinado um Tratado de Livre Comércio com os EUA. Apesar de não se comprometer explicitamente em mantê-lo durante a campanha, Garcia assumiu o TLC e consolidou a abertura neoliberal da economia peruana. Com a recessão norteamericana, no entanto, o Peru passou a ter na China o seu principal parceiro e no Brasil um sócio muito importante, ambos com crescentes investimentos no país.

A invasão de terras indígenas na região amazônica por empresas transnacionais para explorar suas riquezas minerais levou ao despertar de importantes movimentos indígenas, o que ocasionou, entre outros conflitos, um massacre chamado de Baguazo, em junho de 2009, que teve 34 mortos, pela resistência indígena a ocupação de terras para exploração mineral. O Congresso peruano aprovou nesse momento uma legislação que contemplava a consulta aos movimentos indígenas sobre os investimentos.

Essa legislação passou a se constituir em um obstáculo a investimentos já existentes e a outros programados, mas o governo nunca a regulamentou, promovendo situações de incerteza, tanto para os investimentos, como para os movimentos indígenas. Dias antes do segundo turno das eleições desta semana, um movimento parou a região de Cuzco, só aceitando suspendê-lo pela intervenção de Ollanta, mas com a perspectiva de retomá-lo em seguida, se não houver solução para suas reivindicações.

Movimentos deste tipo fizeram com que o país tivesse que reconhecer a região amazônica como região importante para o Peru e despertaram movimentos antes pouco conhecidos no país, promovendo os conflitos sociais mais importantes, que devem se prolongar no novo governo.

O desprestigio de Garcia fez com que seu partido praticamente desaparecesse – elegeu apenas 4 parlamentares -, deixando aberta a sucessão, para a qual se apresentaram vários candidatos neoliberais – entre eles Toledo, um ex-ministro de economia de Garcia, um ex-prefeito de Lima, a filha de Fujimori, diante do único candidato que criticava o modelo, Ollanta Humala. O Apra nem sequer conseguiu apresentar um candidato próprio, com Garcia apoiando ao candidato neoliberal que chegasse ao segundo turno.

Humala reciclou suas posições para um modelo de continuidade do desenvolvimento, mas com redistribuição de renda mediante elevação da taxação dos investimentos mineiros e políticas sociais, modelo próximo ao de Lula. Conseguiu, com base de apoio popular, especialmente no interior do país, chegar de novo em primeiro lugar no segundo turno, desta vez contra Keiko, a filha de Fujimori, que gozava também de apoio popular, baseado nas políticas assistencialistas do seu pai na luta contra o Sendero Luminoso. Em viagem oficial ao Peru, quando se encontrou com Garcia, Lula recebeu publicamente também a Ollanta, com quem trocou opiniões sobre experiências brasileiras na construção de alternativas ao neoliberalismo. Desde então Ollanta veio ao Brasil, tanto na eleição de Dilma, quanto na sua posse, consolidando laços com Lula, Dilma e o PT, o que se traduziu, inclusive, em apoio politico à campanha de Ollanta. (enquanto os tucanos, envergonhados, torciam por Keiko, filha do amigo de FHC.)

O segundo turno foi muito acirrado, tanto na disputa de votos, quanto nas acusações. O apoio da velha mídia peruana, fortemente alinhada com Keiko e as campanhas, conhecidas por nós, de calunias e terror contra Ollanta – a ponto de chegar a revoltar a Vargas Llosa, que rompeu com o jornal tradicional, El Comercio, no qual historicamente publicava suas colunas -, incluindo falsas declarações e telefonemas de Ollanta e, horas antes da abertura da votação, uma suspeita ação, atribuída ao Sendero Luminoso.

Na fase final da campanha, os movimentos de rua e pela internet de rejeição a Keiko, pelos riscos de retorno da camarilha do governo do seu pai – governo de que ela participou como primeira dama -, contribuíram para a vitória apertada de Ollanta. Isso, apesar do apoio maciço da classe média e da oligarquia peruanas em Lima e em regiões do norte do país, além do apoio do governo de Garcia e dos 2 candidatos neoliberais derrotados – Toledo, que havia se elegido no bojo das mobilizações populares que derrubaram a Fujimori, ficou em quarto lugar e apoiou Ollanta.

Ollanta soube, no segundo turno, estabelecer as alianças para conseguir triunfar, renunciando a algumas propostas do seu programa inicial, como nacionalizações de empresas e convocação de Assembleia Constituinte.

Seu triunfo fecha o ciclo de 20 anos de governos neoliberais no Peru, e o mesmo se dá no marco de compromissos já estabelecidos, como o TLC com os EUA. Mas mesmo nesse marco, haverá uma clara aproximação com o Mercosul e, em particular com o Brasil, seja por afinidades políticas, seja pelos interesses econômicos mútuos entre os dois países e distanciamento do pólo neoliberal em que o México, a Colômbia e o Chile pretendiam construir, como alternativo aos processos de integração regional que envolvem a grande maioria dos países da região.

Abre-se para o Peru o caminho de colocar em prática políticas sociais redistributivas – apelo forte da campanha de Humala e, de alguma forma, também de Keiko – e nova inserção internacional do país, que passa a se somar aos governos posneoliberais da região. Não se pode definir precisamente quando o Peru se havia estrepado, mas certamente seguiu por esse caminho nas duas últimas décadas e 2011 marca o momento em que o país, sob a liderança de Ollanta e com forte respaldo popular, começa a ser resgatado para um projeto de ampla democratização econômica, social, política e cultural.

Extraido do blog do Emir

sábado, 14 de maio de 2011

Mercosul, um caminho sem volta.

 Das exportações brasileiras para o Mercosul, 92% são bens industrializados. Se o bloco fosse um "fardo", as exportações brasileiras teriam crescido 55 pontos percentuais acima da média mundial nos últimos 8 anos?


Vinte anos depois da criação do Mercosul, ainda é necessário desmentir os chamados “mercocéticos”, entre eles políticos demotucanos, alguns diplomatas aposentados e jornalistas. Eles alegam que o bloco seria um “fardo” pesado a impedir o Brasil de alçar voos mais altos no comércio exterior, a impedir negociações com outros blocos ou países. Uma alegação tão bombástica quanto vazia.

Afinal, qual foi o grande acordo comercial que os países do Mercosul deixaram de fazer? Com a Alca (Área de Livre Comércio das Américas)? Com a União Europeia?

Qualquer pessoa com um mínimo de conhecimento sobre questões internacionais sabe que não foi esse o caso. Em relação à Alca “ampla” norte-americana, as negociações não prosperaram devido essencialmente à recusa dos EUA em colocar na mesa os seus temas sensíveis, como subsídios agrícolas e antidumping. Ao mesmo tempo, os norte-americanos insistiam em concessões quanto à propriedade intelectual, investimentos e serviços, o que afetaria a capacidade de nossos Estados de promover políticas industriais e de desenvolvimento.

Além disso, a oferta dos EUA em tarifas, apresentada em 2003, discriminava nitidamente o Mercosul. Note-se que o Brasil e o Mercosul fizeram, naquele mesmo ano, a proposta de criação de uma Alca pragmática e realista, restrita à desoneração tarifária estrito senso, o que evitaria o obstáculo desses temas sensíveis, objeto de negociação na OMC (Organização Mundial do Comércio). Os EUA recusaram.

Os mercocéticos também criticam a não assinatura do acordo com a União Europeia. Ocorre que o grande entrave às negociações reside no escandaloso protecionismo agrícola europeu.

Os mercocéticos ignoram que o Mercosul se expandiu bastante em seu entorno regional. Hoje, quase todos os países da América do Sul participam na área de livre comércio do Mercosul; as únicas exceções são Suriname e Guiana. E a Venezuela só não conseguiu ainda a sua adesão como membro pleno devido a resistências políticas que passam ao largo dos interesses de longo prazo dos países da região.

Graças a essa grande expansão, a Associação Latino-americana de Integração (Aladi), que inclui o Mercosul, já absorve cerca de 45% das exportações brasileiras de manufaturados, contrabalançando a concentração de exportações de commodities que se observa em nossos fluxos comerciais com a Ásia e a União Europeia.

Vale observar que, das exportações brasileiras para o Mercosul, 92% são bens industrializados.

Se o bloco fosse um “fardo”, as exportações brasileiras teriam crescido 55 pontos percentuais acima da média mundial nos últimos 8 anos?

Quanto ao Mercosul como um todo, as exportações extrazona, isto é, para terceiros Estados, aumentaram em 200% entre 2002 e 2008, bem acima do crescimento do comércio mundial, que foi de 147%.

No mesmo período, as exportações intrazona aumentaram espantosos 300%. Os investimentos diretos subiram de cerca de US$ 15 bilhões, em 2003, para US$ 57 bilhões, em 2008. Registre-se que esse aumento ocorreu num período no qual não houve privatizações de monta, como no passado, no governo dos mercocéticos.

Na realidade, o Mercosul e a integração regional tornam-se cada vez mais importantes para todos os países membros. Atualmente, a Argentina exporta duas vezes mais para o Mercosul, sem incluir seus membros associados, do que para todo o bloco do Nafta (Tratado Norte-Americano de Livre Comércio, na sigla em inglês).

Cerca da metade das exportações paraguaias estão concentradas no Mercosul. Já o Uruguai exporta cerca de quatro vezes mais para o Mercosul do que para o Nafta.

Essas cifras não acontecem por caso. São fruto, em primeiro lugar, de uma decisão política que nossos países tomaram, no sentido de consolidar e aprofundar a integração regional, que no passado não havia merecido a atenção necessária. São consequência também de algumas profundas mudanças geopolíticas e geoeconômicas em curso no cenário mundial.

Certa vez, Jean Monnet, artífice da União Europeia, foi questionado se não era demasiadamente otimista em relação à integração da Europa. “Eu não sou otimista, eu sou determinado”, respondeu Monnet. Sejamos determinados: o Mercosul é um caminho sem volta.

(*) Médico pediatra, deputado federal (PT-PR) e ex-presidente do Parlamento do Mercosul (http://www.twitter.com/DrRosinha)

terça-feira, 29 de março de 2011

Padre que abençoava voos da morte é denunciado durante missa



Um padre que abençoava militares argentinos e os voos da morte por meio dos quais a ditadura jogava presos políticos-desaparecidos vivos no mar, foi localizado por jovens militantes em uma paróquia de San Martín, na província de Buenos Aires, e denunciado publicamente enquanto rezava a missa. O padre Alberto Angel Zanchetta, que em 2009 foi aposentado como capitão de fragata e capelão da Marinha, continua exercendo o sacerdócio em paróquias da capital argentina e arredores, apoiado pelo cardeal Jorge Bergoglio.

Entre os anos 1975 e 1976, Zanchetta serviu na Escola de Mecânica da Armada (ESMA), considerada o maior centro clandestino de detenção da ditadura e onde desapareceram cerca de 5 mil pessoas. Depois que o Ministério da Defesa, comandado pela advogada Nilda Garré, determinou a remoção de Zanchetta em 2009, o jornal Página/12 descobriu-o em uma igreja do antigo bairro de San Telmo.

Diante do escândalo, a cúpula da Igreja Católica enviou-o para Itália por um tempo e acreditando que tudo havia caído no esquecimento, decidiu reintegrá-lo à paróquia da localidade de 3 de fevereiro, próxima da de San Martín, onde ele foi novamente localizado por familiares dos desaparecidos e sobreviventes. No dia 6 de março, o padre foi enviado então para a paróquia de San Martín, mas ele foi mais uma vez localizado por familiares de desaparecidos que alertaram os moradores do lugar.

Quase ao terminar a missa, no último domingo, um grupo de militantes da Juventude Peronista Evita e familiares de vítimas seguiram atentamente seu sermão, carregado de intrigas políticas. Um dos jovens levantou-se, interrompeu a missa e disse a todos os assistentes que aquele padre havia estado na ESMA durante a ditadura, enquanto seus companheiros distribuíam um panfleto contendo um alerta aos moradores. “Na igreja de seu bairro um assassino está rezando a missa” – denunciava o panfleto.

No dia seguinte, integrantes da Pastoral Social pediram ao bispo da região que retirasse Zanchetta da paróquia. A comunidade espera agora uma decisão da Cúria, enquanto seguem aparecendo cartazes dizendo que, como aconteceu com os nazistas, os assassinos da ditadura serão buscados não importa onde forem.

No livro El vuelo, de Horacio Verbistky, o ex-capitão da Marinha, Adolfo Scilingo – preso atualmente na Espanha – fez sua primeira revelação sobre sua participação nos vôos da morte. Ele relatou que no regresso do primeiro vôo em que atuou jogando pessoas ao mar se sentiu muito mal e se aproximou de um capelão da Marinha, que o acalmou dizendo que era uma morte cristã porque as vítimas não sofriam.

A organização Hijos (de desaparecidos) solicitou a um juiz federal que denuncie Zanchetta, que juntamente com outro capelão, Luiz Antonio Manceñido, são apontados como confessores dos militares da Marinha, já tendo sido reconhecidos por sobreviventes.

Fonte: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17612

1964: data incômoda para a direita




Do Blog do Emir: http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=1&post_id=687

A cada ano, quando nos aproximamos da data do golpe de 1964, uma sensação incômoda se apossa da direita – dos partidos, políticos e dos seus meios de comunicação. O que fazer? Que atitude tomar? Fingir que não acontece nada, abordar de maneira “objetiva”, como se eles não tivessem estado comprometidos com a brutal ruptura da democracia no momento mais negativo da história brasileira ou abordar como se tivessem sido vítimas do regime que ajudaram a criar?

Difícil e incômoda a situação, porque a imprensa participou ativamente, como militância politica, da preparação do golpe, ajudando a criar um falso clima tanto de que o Brasil estivesse sob risco iminente de uma ruptura da democracia por parte da esquerda, como do falso isolamento do governo Jango. Pregaram o golpe, mobilizaram para as Marchas da Família, com Deus, pela Liberdade, convocadas pela Igreja, tentaram passar a ideia de que se tratava de um movimento democrático contra riscos de ditadura e promoveram a maior ruptura da democracia que o Brasil conheceu e a chegada ao poder da pior ditadura que conhecemos.

Na guerra fria, a imprensa brasileira esteve plenamente alinhada com a politica norteamericana da luta contra a “subversão” contra o “comunismo”, isto é, com o radicalismo de direita, com as posições obscurantistas e contrárias à democracia, estabelecida com grande esforço no Brasil. Estiveram em todas as tentativas de golpe contra Getúlio e contra JK. Em suma, a posição golpista da imprensa brasileira em 1964 não foi um erro ocasional, um acidente de percurso, mas a decorrência natural do alinhamento na guerra fria com as forças pró-EUA e que se opuseram com todo empenho ao processo de democratização que o Brasil viveu na década de 1950.

Deve prevalecer um misto de atitude envergonhada de não dar muito destaque ao tema, com matérias que pretendam renovar a ideia equivocada de que a imprensa foi vitima da ditadura – quando foi algoz, aliado, fator no desencadeamento do golpe e da ditadura. (O livro de Beatriz Kushnir, Cães de guarda, da Boitempo, continua a ser leitura indispensável para uma visão real do papel da mídia no golpe e na ditadura.) Promoveu o golpe, saudou a instalação da ditadura e a ruptura da democracia, tratou de acobertar isso como se tivesse sido um movimento democrático, encobriu a repressão fazendo circular as versões falsas da ditadura, elogiou os ditadores, escondeu a resistência democrática, classificou as ações desta resistência como terroristas – em suma, foi instrumento do regime de terror contra a democracia.

Por isso a data é incômoda para a direita, mas especialmente para a imprensa, que quer passar por arauto da democracia, por ombudsman das liberdades politicas. Quem são os Mesquitas, os Frias, os Marinhos, os Civitas, para falar em nome da democracia?

Por isso escondem, envergonhados, seu passado, buscam a falta de memória do povo, para que não saibam seu papel a favor da ditadura e contra a democracia, no momento mais importante da história brasileira. Por isso tem que ressoar sempre nos ouvidos de todos a pergunta: Onde você estava no golpe de 1964?

No Uruguai, Lula defende realizações da esquerda



Na noite de 26 de março realizou-se em Montevidéu o 40° aniversário de comemoração do ato político que mudou a história do Uruguai. Para a esquerda uruguaia é uma data muito importante. No dia 26 de março de 1971, dezenas de milhares de uruguaios realizaram um ato político tão massivo, tão grande e tão bem organizado que todo o país ficou comovido. Aquele ato original representou o primeiro marco de uma nova realidade política que demonstrava que havia uma parcela da cidadania que queria mudanças no rumo do país e que batizava uma nova organização, surgida no mês anterior e chamada Frente Ampla, com a presença massiva da cidadania na rua.

Os partidos tradicionais do Uruguai, Branco e Colorado, compreenderam rapidamente que este novo partido em forma de frente política estava surgindo para disputar uma porção importante do poder. Até ali puderam ver. A história continuaria.

O ato de 26 de março de 1971 evidenciou o mais importante, no que se refere aos destinos da República. Havia um modelo de governar, uma forma de fazer política que estava esgotada. Os ancestrais partidos Colorado e Nacional estavam sem um norte para seguir. Não tinham um projeto nacional. Seu ciclo estava começando a declinar enquanto este novo partido formulava sua visão da sociedade no longo prazo, propunha medidas no médio prazo, formulava de forma estruturada um programa de governo e, além disso, havia lançado um conjunto de 30 medidas urgentes de curto prazo para solucionar os problemas mais importantes do país.

O resto da história já é um pouco mais conhecida. A Frente Ampla chegou ao governo em 2004 com o apoio de mais da metade da cidadania do país. Passou daqueles 7 deputados e 4 senadores para uma maioria absoluta das duas câmaras, até o dia de hoje. O país cresceu e cresce a taxas muito altas que foram entre 4% até os 8,5% de 2010, e todos os indicadores sociais melhoraram quantitativamente e qualitativamente. Não é preciso abusar das cifras neste tipo de nota.

A esquerda
Logo depois do processo exitoso vigente, a esquerda também começou a repensar seu destino. A esquerda precisava de uma sacudida de ideias que a permitisse posicionar-se em direção ao futuro e seus compromissos na elaboração de uma sociedade melhor. Mas agora a esquerda podia e pode elaborar suas ideias e seus projetos com uma mudança substancial, um profundo conhecimento da realidade. A época das consignas passou a uma época de outra riqueza. Agora a esquerda elabora suas ideias e seus programas, seus planos, suas políticas e suas medidas executivas baseadas na mais clara e concreta das realidades. Das realidades reais, digamos.

Esquerda radical
E Lula veio e falou disso. O homem duas vezes presidente do Brasil, torneiro mecânico de origem, não esqueçamos deste dado, falou à esquerda uruguaia. Falou desde a emoção das palavras e sentimentos, mas se posicionou como um homem de esquerda que mudou radicalmente a realidade do maior país da América do Sul, que fez seu povo acreditar que podia desenvolver o país, que podia desenvolver sua indústria, que podia mudar todos os indicadores sociais, que era possível ingressar em uma nova cultura de desenvolvimento e de construção de uma nova autoestima no marco da integração em pé de igualdade com os demais países da região.

Reconheceu todas as dificuldades, mas marcou a realidade dos números sociais e produtivos. Números que implicam que, em cada um deles, há seres humanos de carne e osso. Números que implicam que o norte da preocupação e das responsabilidades da esquerda é o fim da pobreza, o fim dos miseráveis e o começo da nova etapa de consolidação de justiça e de direitos.

E Lula parou diante dos EUA. Deu as costas à lisonja de Obama, e deu as mãos às economias latino-americanas com as quais hoje tem um sustentável e equilibrado comércio exterior, tema que destacou em seu discurso em Montevidéu. Lula falou do desenvolvimento, mas de um desenvolvimento em integração. Falou do imperialismo, mas disse que o Brasil não ia construir um novo imperialismo e que essas ideias que algum momento já estiveram na cabeça de alguns, hoje, deram lugar à via da verdadeira integração multilateral, da integração da América Latina.
Lula disse: somos companheiros, somos parceiros, somos uma nova realidade que chegou para mudar a realidade sem olhar nunca mais os paradigmas dos países desenvolvidos. Países que hoje estão vendo que eles, os desenvolvidos, podem rapidamente “latinoamericanizar-se”, ao velho estilo do empobrecimento e endividamento infinito de seus países.

Uruguai
No final do ato, a Frente Ampla exibiu um vídeo de cerca de 10 minutos. Essa peça traz a mais exata síntese do que a esquerda está fazendo e concretizando. Sempre se pode aparentar muito mais, com palavras radicalmente estrondosas. Mas as mudanças radicalmente revolucionárias são as que esse vídeo mostrou com simplicidade e precisão. (UyPress – Agência Uruguaia de Noticias)

Fonte:  http://www.cartamaior.com.br

sábado, 26 de março de 2011

Uruguay y Paraguay resaltan importancia de Mercosur en su vigésimo aniversario

El Gobierno de Uruguay destacó la importancia del Mercado Común del Sur (Mercosur), apropósito de cumplirse este sábado su vigésimo aniversario. La celebración de la fecha se efectuará en la clausura del II Encuentro de la Nación Guaraní, en Paraguay.
A través de un comunicado, la Cancillería uruguaya recordó la creación de este organismo, que partió del Tratado de Asunción firmado por Argentina, Brasil, Paraguay y Uruguay.

El texto agrega que luego del establecimiento del organismo se profundizó el diálogo entre los países de la región, así como también se intensificó la cooperación entre los países.

También señala que gracias al ente, el comercio en la región tuvo ganancias   por unos 45 mil millones de dólares, es decir, 10 veces más de lo obtenido en el año fundacional.

"Un ejemplo contundente de esa madurez es el Fondo de Convergencia Estructural del Mercosur (Focem), que tiene hoy casi mil millones de dólares volcados a reducir las diferencias de desarrollo entre los socios", agrega el comunicado.

El mensaje de la Cancillería uruguaya recalcó la necesidad de continuar perfeccionando el organismo, así como también de reflexionar "sobre el sólido patrimonio acumulado a lo largo de este proceso".

Este sábado, el presidente paraguayo, Fernando Lugo asistirá acompañado del vicepresidente de Bolivia, Álvaro García Linera, a un lugar sagrado del pueblo guaraní para los actos conmemorativos de los 20 años de existencia del Mercosur.

El Mercosur fue creado el  26 de marzo de 1991 luego de que los mandatarios de  Argentina, Brasil, Paraguay y Uruguay del momento, firmaran el Tratado de Asunción.

La celebración del aniversario del organismo se realizará este sábado durante  la clausura del II Encuentro Nacional Guaraní, que reúne a originarios de la mencionada etnia de los países que integran el Mercosur.

En la reunión del pueblo nativo, que comenzó el 24 de marzo y culmina este sábado, se debaten temas sobre la territorialidad, el libre tránsito de los originarios por regiones consideradas de la Nación Guaraní dentro de los países del Mercosur y la creación de una instancia permanente para los indígenas, dentro del bloque regional.

El encuentro se efectuará en la región de los Paî Tavyterâ, entre los cerros Jasuka Venda en el departamento de Amambay (centroeste de Paraguay), lugar sagrado para las etnias, donde surgió su Dios Creador.

Fonte: http://www.telesurtv.net

Países da América Latina se posicionam sobre conflito na Líbia

Desde o último dia 15 de fevereiro, o ditador da Líbia, Muamar Khadafi – há 42 anos no poder – enfrenta uma revolta popular que já deixou centenas de mortos e mais de 300.000 desabrigados. O conflito no país chamou a atenção do mundo e fez com que países liderados pelos Estados Unidos, França, Inglaterra e países aliados iniciassem ataques aéreos no sábado (19).
Diante da situação de guerra os presidentes dos países da América Latina, se pronunciaram e, em sua maioria se posicionaram de forma contrária ao bombardeio. Alguns líderes latino-americanos acreditam que o ataque tem interesse comercial e visa apenas o petróleo do território líbio.
Essa é a opinião do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que condenou o bombardeio e disse que a intervenção militar é uma ‘loucura imperial’. Chávez afirmou que o interesse é o petróleo líbio. Para ele, a organização das Nações Unidas violou princípios fundamentais por ter apoiado o ataque aéreo e ter respaldado a zona de exclusão aérea para a Líbia.
Hugo Chávez é aliado do ditador líbio Muamar Khadafi e solicitou uma mediação para buscar uma solução negociada desde que os grupos rebeldes se manifestaram. Ele propôs a criação de uma comissão internacional de paz para ajudar a resolver o conflito interno na Líbia.
O presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, também condenou a intervenção militar da coalizão internacional e concordou com Chávez dizendo que os ataques tem o objetivo de tomar posse do petróleo da Líbia. “Agora vem uma guerra externa (contra a Líbia) das potências buscando como arrebatar o petróleo, porque o interesse deles é o petróleo. O de democracia é puro conto”, declarou, segundo o portal oficial do governo ‘El 19′.
Para Ortega, a intervenção militar na Líbia está longe de ser uma saída pacífica e contribui apenas para agravar mais o problema da região, que já tem o histórico de conflitos no Iraque e Afeganistão. A mesma opinião tem o cancheler da Venezuela, Nicolás Maduro, quem afirmou que os ataques podem provocar “uma situação de guerra no Mediterrâneo com consequências inimagináveis”.
O líder da Bolívia, Evo Morales, se pronunciou sobre o caso durante o III Encontro do Conselho Ministerial da ALBA (Aliança Bolivariana das Américas), em Cochabamba. O mandatário rechaçou a intervenção militar na Líbia e também acredita que o ataque é um pretexto para se chegar ao petróleo, assim como aconteceu no Iraque.
Ele comentou que os países que promovem os ataques devem ser investigados e punidos pelas violações de direitos humanos e lançou uma observação: “Quando tem um conflito em Honduras, um golpe de Estado, nem as potências nem ninguém se mobiliza. Que contradição dos distintos impérios!”.
Fernando Lugo, presidente do Paraguai, disse que “nenhum tipo de violência é justificada” e lamentou que as Nações Unidas tenham legitimado o ataque. A mesma opinião tem o presidente do Uruguai, José Mujica e o governo da Argentina. Da mesma forma, o Equador expressou que os ataques são “inadmissíveis” e promovem uma escalada de violência. Por meio de um comunicado o governo equatoriano de Rafael Correa disse que seu país “sempre defendeu a paz e a solução das controvérsias de maneira pacífica”.
O cubano Fidel Castro também se pronunciou sobre os conflitos e pôs em dúvida a utilidade do Conselho de Segurança da ONU. Questionou ainda o poder militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), que apoia a coalizão internacional.
A presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, que recebeu a visita do presidente estadunidense Barack Obama, no sábado (19), dia em que ele autorizou o início dos ataques na Líbia, defende o cessar-fogo no país africano. O Brasil destaca a necessidade da busca do diálogo e a proteção da população civil.
O ministro da Justiça brasileiro, José Eduardo Cardozo, afirmou hoje (24) que a posição do governo brasileiro sobre a situação da Líbia é “uma postura correta, coerente e soberana, dentro dos princípios históricos que orientam as relações internacionais do país”. O Brasil foi um dos cinco membros do Conselho de Segurança da ONU e se absteve na votação da resolução 1973, que criou a zona de exclusão aérea na Líbia.
Por outro lado, países como Chile, Peru e Colômbia apoiam os ataques. Juan Manuel Santos, presidente da Colômbia, que é membro do Conselho de Segurança da ONU, disse que seu país sempre vai apoiar as posições que defendem a liberdade e a democracia. O governo chileno, apesar de deplorar as ações executadas pelo regime líbio e apoiar os ataques contra a Líbia, disse esperar que a violência tenha fim.

Fonte: http://www.cartacapital.com.br

quinta-feira, 24 de março de 2011

Com 20 anos de Mercosul, Venezuela ainda aguarda autorização para entrar

Prestes a completar 20 anos, o Mercosul vive momentos de indecisão sobre a inclusão da Venezuela no bloco. A questão divide opiniões de parlamentares e especialistas. As principais polêmicas relacionam-se ao presidente Hugo Chávez.
Atualmente, a inclusão no bloco sul-americano depende apenas do parlamento paraguaio, já que os congressos dos outros três países se posicionaram a favor do protocolo assinado em julho de 2006. O processo, em cada um dos países, teve sua dose de debates acalorados. No Brasil, o Legislativo concluiu apenas em 2009 a votação da entrada venezuelana (leia box).
Apesar da liderança polêmica exercida por Chávez, a Venezuela goza de uma simpatia razoável na América Latina, analisa Luiz Augusto Faria, professor de Economia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Esse prestígio vale inclusive entre os países do Caribe, o que poderia, segundo Faria, ampliar o espaço do Mercosul, que nasceu com o pretexto de virar uma zona de integração da América do Sul.
"Não só do ponto de vista econômico, mas também político. Cada um tem um voto na Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), e isso beneficiaria o almejo brasileiro na organização", explica. Os principais objetivos do Brasil dizem respeito à reforma de instâncias como o Conselho de Segurança, com a inclusão de novos membros permanentes e extinção do direito de veto.

Embate no Senado acabou em 2009

Fundamental para a aprovação foi a visita ao Senado do prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, forte opositor de Chávez. Em Brasília, ele pediu aos parlamentares que votassem a favor da medida que autorizava a entrada da Venezuela no bloco, argumentando que deixar o país isolado seria o pior para a democracia.


Integrantes de partidos tanto da oposição quanto da situação alegavam que aquela nação descumpre a cláusula democrática, uma das exigências para se ingressar no bloco. PSDB, DEM, PPS, PMDB e PTB acabaram convencidos por Ledezma.


Para alguns acadêmicos, a discussão em torno da entrada da Venezuela no bloco significaria um rompimento das cláusulas democráticas do bloco, além de envolver outros entraves políticos na negociação de acordos comerciais com outros países. O Protocolo de Ushuaia, assinado em 1998 na Argentina, estabelece que todos os países-membros devem seguir preceitos democráticos.
"O que complica não é ser do Mercosul, é que o Chávez tem uma estratégia interna de desenvolvimento que é conflitante com a brasileira", opina Miriam Gomes Saraiva, professora de Relações Internacionais da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
Entretanto, para o professor de economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Fernando Sarti, os países são maiores que seus governos, independentemente de concordâncias políticas. Para ele, o espírito integracionista está acima dos governos. "A Venezuela não é o o governo atual. E ela (nação) vai continuar ali de alguma maneira", pontua.
Para Luiz Augusto Faria, que defende a entrada da Venezuela no bloco, o Mercosul tem sua cláusula democrática rígida e qualquer má condução por parte do governo venezuelano resultaria na sua expulsão. "Eu vejo uma tendência de que a política na Venezuela se aproxime mais ao que acontece no Brasil e na Argentina", explica Faria. Ele refere-se à conduta da oposição ao governo venezuelano, que intensificou a pressão por mais democracia sobre Chávez dentro do que preveem as instituições do país.
Para o ingresso de novos membros do Mercosul, além do Protocolo de Ushuaia, é necessário que o país incorpore o Tratado de Assunção, o Protocolo de Ouro Preto e o Protocolo de Olivos para Solução de Controvérsias, que regem o Mercosul. Também é necessário que adote-se a Tarifa Externa Comum (TEC), que define impostos de importação comum entre os membros do bloco para produtos de outros países.
Para a professora Miriam, outra questão provocada pela adesão venezuelana é a não adaptação de seu comércio exterior à TEC. "Eles nunca deram um passo (sequer) para de fato entrar no Mercosul", explica.

Economia

Para alguns especialistas, a entrada da Venezuela no Mercosul ofereceria ao bloco uma maior diversidade econômica, em razão da crescente industrialização que o país apresenta. Esse índice ainda é bem menor do que no Brasil e mesmo na Argentina, em parte pela dependência criada no país em torno do petróleo. Porém, justamente a questão energética reforçaria o trunfo da América do Sul, explica Luiz Augusto Faria.
O pesquisador descarta a possibilidade de as posições "anti-imperialistas" do governo Chávez prejudicar acordos comerciais do Mercosul com outros blocos. Segundo Faria, a relação venezuelana com a Europa não tem muito destaque, já que o principal parceiro comercial venezuelano são os Estados Unidos. "A Venezuela nunca fez nada para perder a confiabilidade de nenhum dos países, eles (a Venezuela) nunca pararam de exportar petróleo, nem mesmo aos EUA (apesar das críticas)", pondera.
Faria destaca também o fato de a Venezuela já ter um histórico como importante parceiro comercial brasileiro. Em 2010, o Brasil chegou a um superávit de mais de R$ 3 bilhões no comércio com a Venezuela. "Além de produtos, a gente exporta muito serviço pra eles também e isso é uma coisa que deve intensificar com a adesão ao Mercosul", pontuou Faria.
Para Fernando Sarti, a adesão do país faz com que o Brasil e a própria Venezuela ganhem, assim como a sociedade. "A Venezuela é necessária para o Mercosul. Mercosul é necessário para a Venezuela. Há ampliação de mercado para todos os países, todos ganham", destaca o deputado federal Dr. Rosinha (PT/PR) que já presidiu o Parlasul, braço legislativo do bloco.

Fonte: http://www.redebrasilatual.com.br

Mesa do Senado aprova nova representação do Brasil no Parlasul

Proposta ainda será incluída na pauta do Congresso (sessão conjunta da Câmara e do Senado).


A Mesa do Senado aprovou hoje o anteprojeto de resolução que define a nova composição da Representação Brasileira no Parlamento do Mercosul (Parlasul). De acordo com o anteprojeto, o Brasil passará a ter 37 representantes no Parlasul, sendo 27 deputados e 10 senadores, com igual número de suplentes.
Até dezembro do ano passado, a Representação Brasileira no Parlasul era composta por 18 parlamentares, sendo 9 deputados e 9 senadores. Essa composição era estabelecida pela Resolução 1/07, que não está mais em vigor.
O anteprojeto já foi aprovado pela Mesa Diretora da Câmara, no último dia 16. Em seguida, a proposta será incluída na pauta do Congresso (sessão conjunta da Câmara e do Senado), ainda sem data marcada.
A indefinição sobre a composição dos representantes brasileiros está impedindo a realização de sessões deliberativas pelo Parlasul, uma vez que o órgão não pode se reunir sem a presença de todas as delegações dos países que compõem o bloco (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai). A Venezuela ainda está em processo de adesão ao bloco.
Eleições diretas
A proposta de resolução determina ainda que a escolha dos representantes seja feita por líderes partidários, respeitando tanto quanto possível o critério da proporcionalidade. A escolha dos representantes por eleição direta ficou prejudicada pela falta de acordo, que impediu o Congresso Nacional de aprovar uma nova resolução em tempo hábil antes das últimas eleições.

Fonte: http://www2.camara.gov.br/agencia/noticias/RELACOES-EXTERIORES

segunda-feira, 14 de março de 2011

Unasul e Itaipu criam polêmicas nas votações da Câmara

Passado o Carnaval, os trabalhos na Câmara e Senado voltam ao normal. Na pauta de votação do plenário das duas casas predominam as Medidas Provisórias. Na Câmara, dois Projetos de Decreto Legislativo relativos à constituição da Unasul e à alteração do Tratado Binacional de Itaipu, que devem ser votados em sessão extraordinária, vão dividir governistas e oposição.

Os dois projetos de decreto legislativo devem ser pautados, provavelmente na quarta-feira (16), em sessão extraordinária. Essa definição deve ser feita na reunião do Colégio de Líderes que será realizada nesta terça-feira (15). Os temas dos dois acordos a serem ratificados não devem ter apoio da oposição e prometem muitas discussões no plenário.

Já as duas Medidas Provisórias (MPs) da Câmara não devem ter maiores polêmicas para ser aprovadas. No Senado, a Medida Provisória do Sigilo Fiscal perderá a validade se não for votada até esta terça-feira (15).

Revisão do Tratado de Itaipu

O líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), pretende votar o pedido de urgência para a votação do projeto de decreto legislativo que triplica o valor repassado pelo governo brasileiro ao Paraguai pela compra de energia excedente da hidrelétrica de Itaipu - proposta criticada pela oposição e setores do Executivo.

Há três semanas ele tenta votar o requerimento para acelerar a votação do tratado de Itaipu, uma de suas prioridades. Sem a urgência, o tratado será analisado por várias comissões técnicas – de Relações Exteriores e de Defesa Nacional; de Minas e Energia; de Finanças e Tributação; e de Constituição e Justiça e de Cidadania; e finalmente pelo plenário. Com a proposta, o texto pode ser relatado por todas as comissões e votado numa mesma sessão do plenário.

Unasul criada

O anúncio de que o Uruguai ratificou nesta semana sua adesão ao Tratado Constitutivo da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) pode acelerar a análise pela Câmara do projeto de decreto legislativo de adesão do Brasil na Câmara. Após as adesões de Argentina, Bolívia, Chile, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela, a ratificação do Uruguai cumpre o requisito mínimo de pelo menos nove países para que a Unasul adquira personalidade jurídica. Com isso, o tratado que cria a Unasul começa a valer a partir de 11 de março deste ano, 30 dias após a nona ratificação, mesmo sem ter sido aprovado pelo Congresso Nacional brasileiro.

A Unasul será uma área de integração continental que abrangerá 12 países: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela. O tratado prevê que a organização terá como objetivo eliminar a desigualdade socioeconômica, alcançar a inclusão social e a participação cidadã e fortalecer a democracia, a soberania e a independência dos estados por meio da integração e união desses países, na área cultural, social, econômico e política.

O deputado Dr. Rosinha (PT-PR) diz que, por questões ideológicas, a oposição têm dificultado a aprovação do projeto. O deputado reclama que o impasse não é muito bem explicitado pelos partidos como o PSDB, o PPS e o DEM. “Eles não explicam, ponto por ponto, por que eles se opõem. Acho que é um conceito mais ideológico do que de mérito. Ideologicamente, sabemos que eles se opõem à integração sul-americana. Sabemos que eles têm muito mais afinidade ideológica com a política norte-americana, do que com a política da América do Sul".

Matérias de consenso

Acordo de líderes na Câmara reservou esta semana para a votação de duas Medidas Provisórias (MPs) e, no Senado, também deve haver votação da MP do Sigilo Fiscal que perde a validade se não for votada até amanhã.

A votação das duas MPs não provoca polêmica. A primeira trata de um crédito orçamentário para a manutenção do transporte e da alimentação escolares e a outra adia a vigência dos atuais contratos de franquia da Empresa de Correios e Telégrafos por 45 dias, prazo necessário para que a Empresa possa concluir o processo licitatório para formalização dos contratos dos novos postos, em junho próximo.

No Senado, a Medida Provisória do Sigilo Fiscal está esperando na pauta para ser votada até amanhã, sob pena de perder a validade. Essa medida provisória estabeleceu punição mais rigorosa aos servidores que violarem sigilo fiscal. O relator, João Vicente Claudino (PTB-PI), também não poderá acolher emendas ao texto, porque não há tempo hábil para que a matéria retorne à Câmara.

Banda larga nas escolas

A Câmara pode votar, também em sessão extraordinária a ser marcada para esta terça-feira (15), o Projeto de Lei do Senado, que estabelece a meta de conectar todas as escolas públicas à internet de banda larga até 2013, com prioridade para as situadas na zona rural.

O projeto permite o uso de recursos do Fundo de Universalização de Serviços de Telecomunicações (Fust) para essa finalidade e, de acordo com o substitutivo
da Comissão Especial de Redes Digitais de Informação, o Ministério das Comunicações definirá, anualmente, a parcela dos recursos do fundo que deverá ser aplicada para alcançar essa meta.

A votação do projeto tem acordo entre os partidos, mas a matéria será discutida no Colégio de Líderes antes de ser analisada, segundo informou o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS).



Fonte: http://www.vermelho.org.br

sábado, 19 de fevereiro de 2011

A primavera árabe se espalha

De onde o continente africano encontra o oceano Atlântico, no Marrocos, cruzando a extensão dos mares Mediterrâneo e Vermelho, englobando a península arábica para atravessar o golfo Pérsico até os limites da Ásia, no Irã, mais de 300 milhões de pessoas vivem em uma região sob ameaça de convulsão social decorrente de eventos que podem representar a maior redistribuição de forças no tabuleiro geopolítico global desde o fim do comunismo no Leste Europeu. A expressão barril de pólvora nunca fez tanto sentido. 

O artigo é de Wilson Sobrinho.

A Primavera Árabe, como parte da imprensa tem se referido aos acontecimentos iniciados em dezembro na Tunísia e que na metade de fevereiro derrubaram o governo do Egito, transformou-se em uma rebelião tão grande que agora já transborda os limites daquele que é um dos verdadeiros parâmetros de grandeza do planeta Terra, o deserto do Saara.

De onde o continente africano encontra o oceano Atlântico, no Marrocos, cruzando a extensão dos mares Mediterrâneo e Vermelho, englobando a península arábica para atravessar o golfo Pérsico até os limites da Ásia, no Irã, mais de 300 milhões de pessoas vivem em uma região sob ameaça de convulsão social decorrente de eventos que podem representar a maior redistribuição de forças no tabuleiro geopolítico global desde o fim do comunismo no Leste Europeu. A expressão barril de pólvora nunca fez tanto sentido.

Argélia – Os argelinos primeiro foram as ruas para protestar contra a alta no preço dos alimentos em janeiro último. Os confrontos deixaram um saldo de 5 mortos e 800 feridos. No sábado (12/02) depois da queda do governo egípcio, mais protestos foram convocados pela oposição. Duas mil pessoas compareceram às ruas da capital Argel. 30 mil soldados os esperavam. Relatos dão conta de que 350 pessoas foram presas na ocasião. Mais protestos estão programados para este final de semana, apesar do estado de emergência, em vigor desde 1992, que proíbe manifestações públicas no país. Na segunda cidade da Argélia, Orã, por exemplo, as autoridades deram permissão para manifestações, contanto que aconteçam em locais fechado.

A dissolução da lei de emergência e a saída do presidente Abdelaziz Bouteflika são algumas das bandeiras dos manifestantes. Bouteflika, que está no poder desde 1999 e recentemente alterou a regra que limitava o número de vezes que pode concorrer à reeleição, anunciou que deverá revogar a lei de emergência em semanas. Nos anos 1990, uma guerra civil ceifou entre 150 e 200 mil vidas no país.

Arábia Saudita – Parcos foram os eventos até agora no país que guarda em seu subsolo um quinto das reservas de petróleo do mundo e que é o alicerce maior dos EUA no Oriente Médio. E poucos acreditam que o pavio saudita possa ser acesso, mas diante de tanta instabilidade ninguém ficará surpreso caso isso aconteça.

Neste sábado (19/02), membros da minoria xiitas do país teriam organizado uma manifestação pacífica e silenciosa em apoio aos seus pares de Bahrein, relata a agência Reuters.

Bahrein – As manifestações começaram no dia 14 de fevereiro, três dias depois da queda de Cairo. Quatro pessoas morreram quando as forças do governo tentavam retirar manifestantes da praça Pérola, na quinta-feira (17/02), em Manama, a capital dessa ilha do golfo Pérsico que abriga a Quinta Frota da marinha dos EUA. No enterro dos mortos, mais violência resultou em pelo menos 50 feridos. O governo, que primeiro pediu que os manifestantes abandonassem as ruas, passou chamar o diálogo, rejeitado pelas forças de oposição sob o argumento de que não há conversa possível com o exército nas ruas.

Com 1,2 milhões de habitantes apenas, essa ilha do golfo Pérsico espremida entre o Catar e a Arábia Saudita está longe de ser a mais desimportante das repúblicas em convulsão. Analistas alertam que Bahrein pode representar a porta de entrada da Arábia Saudita na crise. Já que as demandas da maioria xiita do país são semelhantes a dos xiitas árabes, minoria concentrada na região leste do país.

Egito – Uma semana depois da queda de Hosni Mubarak – o mais espetacular dos eventos alcançados pelos manifestantes nessa onda de revolta árabe até o momento – milhares de pessoas voltaram à praça Tahrir para celebrar o feito. Mas a manifestação pode ser compreendida também como um sinal de alerta às forças armadas que tomaram o poder depois da saída de Mubarak. Depois de derrubar um regime de 30 anos, em 18 dias de protestos, os egípcios sabem que sua revolução ainda não terminou até que o poder provisório dê lugar a um com regras bem claras e estabelecidas.

Iêmen – no sul da península arábica, esse país tem, segundo a revista britânica The Economist, o maior potencial para ruptura social entre todos os envolvidos na revolta até agora. Há 32 anos no poder, Ali Abdullah Saleh anunciou em início de fevereiro que não irá buscar um novo mandato em 2013, nem irá apontar seu filho como herdeiro político. O comprometimento veio depois de uma manifestação que levou 16 mil pessoas às ruas da capital, Sana, pedindo a queda do governo.

No dia seguinte ao anúncio, 20 mil pessoas voltaram às ruas da capital e de outras cidades para reforçar o pedido de fim do regime. Depois da queda de Mubarak, no Egito, manifestações diárias vem acontecendo no Iêmen. A maior delas, na sexta-feira, 18, quando milhares de manifestantes antigoverno foram às ruas da capital. Reprimidos pelo exército e por ativistas pró-governo, que chegaram a atirar uma granada em um grupo de pessoas, a contagem de mortos entre os manifestantes já chega a 12.

Irã – Embora aplauda o levante popular em outras partes do mundo islâmico, Teerã – que divide com a Líbia o posto de maior inimigo dos EUA na região – não quer que o mesmo aconteça em seu território. Por outro lado, a oposição pretende aproveitar a onda de rebeldia para recobrar forças e voltar a desafiar o governo de Mahmoud Ahmadinejad.

Dois manifestantes foram mortos na segunda-feira, dia 14, na capital, em confrontos envolvendo grupos de oposição e forças do governo. Como resposta, a oposição está chamando para domingo, dia 20, uma manifestação contra o governo, que por sua vez colocou os líderes oposicionistas em prisão domiciliar.

Jordânia – Outro país onde as manifestações começaram em janeiro, fomentadas por altas nos preços de comida e energia. Em 28 de janeiro, 3,5 mil ativistas tomaram as ruas da capital, Amã, exigindo a saída do primeiro-ministro e uma ação mais forte do governo em relação ao desemprego e a alta do custo de vida. O rei Abdullah II foi rápido ao intervir e a dissolução do governo foi anunciada em começo de fevereiro. As manifestações seguiram, agora com a oposição pedindo reformas políticas e democracia.

O único confronto registrado até agora na Jordânia aconteceu na sexta-feira, 18 de fevereiro, quando um grupo de manifestantes favoráveis ao governo atacou os oposicionistas com paus e pedras, até a polícia intervir.

Líbia – Excluindo-se o rei da Tailândia e a rainha da Inglaterra, ninguém está no poder há tanto tempo quanto Muammar al-Gaddafi. O homem que comanda a Líbia desde o fim dos anos 1960 viu a revolta oposicionista ser incensada pelos eventos do Egito e da Tunísia. Desde o dia 15 de fevereiro, terça-feira, as manifestações contra Gaddafi são diárias no país principalmente na cidade de Bengasi, a segunda maior do país. Segundo agências internacionais, mas de 80 pessoas já teriam morrido em confrontos entre manifestantes e forças do governo.

Em Trípoli, porém, não há relatos de grandes protestos até o momento e e o único evento relacionado à crise foi uma resposta de seguidores do governo ao protestos convocados pela oposição. Há relatos de que o governo teria bloqueado o acesso à internet no país, ou pelo menos a sites como Facebook e Twitter, armas reconhecidas dos oposicionistas em outros países.

Marrocos – Os protestos em massa no país ainda não ganharam as ruas, mas estão prestes a fazê-lo. A oposição está convocando uma manifestação neste domingo (20/02). Organizados via Internet os manifestantes afirmam não ser um movimento antimonarquia e que apenas querem “um governo que represente as pessoas e não a elite”, como descreveu para a Associated Press nessa semana um dos membros do grupo chamado 20 de Fevereiro.

Tunísia – Quando Mohamed Bouazizi colocou fogo em si mesmo, no dia 17 de dezembro de 2010, como um ato de desespero depois de ter suas mercadorias confiscadas pelas autoridades policiais da Tunísia, ele não teria como imaginar o que se seguiria. O ato do jovem vendedor de rua serviu de gatilho para a Primavera Árabe. Menos de um mês depois, o presidente de mais de 24 anos no comando do país africano havia sido colocado para correr e os portões do inferno haviam sido abertos para todos os déspotas da região.

Mais de 200 pessoas morreram no processo, que ainda não acabou. Apesar da mudança de governo, os manifestantes tunisianos seguem mobilizados para garantir que antigos membros do governo não voltem à cena e que a transição para a democracia ocorra de fato. 

Fonte: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17455