Projeto curatorial da 10ª edição da mostra de arte contemporânea de Porto Alegre foi lançado em coletiva para a imprensa na manhã desta terça-feira (26/8). Evento será realizado entre setembro e novembro do próximo ano
O curador-chefe é Gaudêncio Fidelis (ao microfone), atual diretor do Margs
A Bienal do Mercosul ensaia um retorno às origens em sua 10ª edição. Em 2015, a mostra de arte contemporânea de Porto Alegre terá foco total nos países da América Latina, apresentando produções atuais e uma retrospectiva das edições anteriores. Pelo o que tudo indica, o movimento de internacionalização dos últimos anos dará lugar a uma ótica geográfica periférica para discutir as condições em que é produzida a arte fora dos grandes centros.
Em coletiva de imprensa na manhã desta terça-feira (26/8), foi lançado o plano curatorial que guiará a preparação das exposições e atividades da próxima Bienal, a ser realizada entre setembro e novembro do ano que vem. A Fundação Bienal do Mercosul também apresentou os profissionais que estão à frente do projeto. O curador-chefe é Gaudêncio Fidelis, que atualmente dirige o Margs. A escolha de um nome local vai na contramão das últimas edições, comandadas por curadores estrangeiros com trânsito em mostras e instituições dos EUA e da Europa – entre eles, a mexicana Sofía Hernández Chong Cuy, o colombiano José Roca e o espanhol Gabriel Pérez-Barreiro.
– A opção pela América Latina é uma discussão política, constituiu uma virada relativamente brusca em relação ao que as outras edições vinham desenvolvendo. Não há por que a Bienal do Mercosul incidir sobre outras bienais ao redor do mundo que se focalizam sobre as grandes produções europeias – diz Fidelis.
Fidelis está acompanhado por um time de curadores do Brasil, México, Argentina e Chile (veja abaixo). A ideia deles é resgatar o que chamam de "vocação inicial" da Bienal do Mercosul, criada em 1996 e então batizada com o nome do acordo de livre-comércio. Intitulada "Mensagens de uma Nova América", a 10ª edição busca inspiração na continuidade da primeira mostra, de 1997, quando o curador Frederico Morais propôs uma revisão sobre a arte latino-americana.
– Estamos resgatando o conceito do Frederico Morais, mas ele tinha uma proposta de reescrever história da América Latina. Nós não temos essa pretensão, pois estamos em um momento histórico diferente – comenta Fidelis.
Ainda não foram divulgados os artistas participantes. Na coletiva, comentou-se que a busca é por obras e não exatamente por artistas. Além de atividades pela cidade, as mostras seguirão o roteiro de 2013, quando a Bienal migrou do Cais do Porto para espaços que costumam hospedar o evento – Margs, Memorial do RS, Santander Cultural e Usina do Gasômetro. As novidades serão a Casa de Cultura Mario Quintana e o Museu de Comunicação Social Hipólito José da Costa.
– Vamos partir dos espaços que a Bienal vem utilizando, mas com algumas limitações, pois perdermos alguns espaços. Esta Bienal terá uma escala maior pela necessidade de abrigar um número de exposições que é superior ao da Bienal anterior – diz Fidelis.
Além de uma retrospectiva com obras emblemáticas das nove edições, serão apresentadas exposições com obras recentes conforme quatro "campos conceituais", dando conta da diversidade da América Latina. A Jornada da Adversidade tratará das especificidades da arte no contexto de instabilidade política da América Latina. Em A Insurgência do Sentido, estarão reunidas obras que lidam com sentidos além do olhar – olfato, tato, paladar e audição. Produções ainda não totalmente assimiladas por museus, academia e instituições serão o mote de O Desapegamento dos Trópicos. E, por fim, A Jornada Continuaserá o braço pedagógico, com atividades voltadas à formação de público e curadores.
– Boa parte dessa produção será conhecida, porque vamos trabalhar com obras canônicas. Mas também teremos o que chamamos de pontos cegos (ele se refere a obras e artistas excluídos das narrativas históricas dominantes). A Bienal raramente incluiu países da América Central, e achamos que eles têm uma contribuição que ainda não foi mensurada – comenta Fidelis.
O objetivo central é dar visibilidade a produções artísticas que ainda não receberam amplo reconhecimento da crítica e da historiografia. Para discutir a arte situada à margem da visão eurocêntrica, os curadores citam Hélio Oiticica, Oswald de Andrade, modernismos tardios, neobarroco, miscigenação e pós-colonialismo.
A previsão é de que o orçamento mantenha o patamar da Bienal de 2013, que custou cerca de R$ 12,5 milhões.
*Colaborou Luiza Piffero
OS CURADORES
Confira quem são os profissionais responsáveis pelo projeto curatorial da 10ª Bienal do Mercosul, a ser realizada entre setembro e novembro de 2015
Gaudêncio Fidelis - Curador-chefe
> Formado pelo Instituto de Artes da UFRGS, integrou, como escultor, a geração de artistas gaúchos que despontaram nos anos 1980. Na década seguinte, seguiu trajetória como crítico e historiador. Obteve o título de doutor em História da Arte pela State University of New York com tese sobre a recepção da arte contemporânea brasileira nos EUA. Em 1992, foi o primeiro diretor do Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul (MACRS). Trabalhou em 2005 como curador adjunto na 5ª Bienal do Mercosul. Desde 2011, dirige o Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs).
Márcio Tavares - Curador adjunto
> Historiador e mestrando em História pela UFRGS. É coordenador de Memória, História e Patrimônio da Secretaria da Cultura e diretor do Arquivo Histórico do Estado, além de diretor do Museu dos Direitos Humanos do Mercosul.
Carmen Cebreros Urzaiz - Curadora assistente
> Mexicana que atua como curadora, pesquisadora e professora. Mestre em Estudos Curatoriais pelo Goldsmiths College, de Londres, é estudante-docente no Hammer Museum, da Universidade da Califórnia (UCLA), em Los Angeles, nos EUA, onde faz doutorado.
Fernando Davis - Curador assistente
> Especializado em arte contemporânea latino-americana, o argentino já escreveu livros sobre os artistas conterrâneos Juan Carlos Romero, Luis Pazos e Horacio Zabala. É professor da Universidad Nacional de La Plata (Ucla), onde pesquisa arte e ação política na América Latina.
Ramón Castillo Inostroza - Curador assistente
> O chileno foi curador de arte contemporânea do Museo Nacional de Bellas Artes. Estudou doutorado em História de Arte em Barcelona, na Espanha, como bolsista do governo do Chile. É diretor da Escola de Artes Visuais da Universidad Diego Portales, em Santiago.
Raphael Fonseca - Curador assistente
> Crítico, curador e historiador da arte brasileiro. É doutorando em Crítica e História da Arte pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Integra a Associação Brasileira de Críticos de Arte e a Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas.
Regina Teixeira de Barros - Curador assistente
> Historiadora da arte e curadora especializada em arte moderna do Brasil. Foi assistente de curadoria na 22ª Bienal de São Paulo, em 1994. Desde 2003, trabalha na Pinacoteca do Estado de São Paulo, onde atua como curadora assistente.
Fonte: http://zh.clicrbs.com.br/rs/entretenimento/noticia/2014/08/em-2015-bienal-do-mercosul-fara-retomada-de-perfil-dando-foco-a-arte-dos-paises-da-america-latina-4583728.html