Ex-ministro de Lula afirmou que EUA podem ter armazenado informações sobre negociação para compra de aviões da FAB
Um dos principais formuladores da política externa do governo Lula (2003-2010), o ex-ministro e embaixador Samuel Pinheiro Guimarães argumentou nesta terça-feira (16/07) que o Brasil deveria aumentar os investimentos em fibra ótica para se proteger dos programas de espionagem dos Estados Unidos.
Em entrevista a Opera Mundi em São Bernardo do Campo, onde é realizada a conferência “2003-2010: Uma nova política externa”, na Universidade Federal do ABC, Pinheiro Guimarães disse que a ação norte-americana não é uma novidade, pois é “realizada em alguma medida por satélite desde 1948”.
“É um problema simples para a presidente Dilma resolver. Basta aumentar os recursos do Programa Nacional de Banda Larga, pois a fibra ótica é o único sistema que pode dar privacidade ao país e seus cidadãos. Se tivermos o dinheiro necessário, temos solução. Caso contrário, não”, afirmou. O Programa Nacional da Banda Larga foi criado em maio de 2010 e tem como um dos objetivos "aumentar a autonomia tecnológica e a competitividade brasileiras".
Ao participar da primeira mesa de debates do dia, o ex-ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos (2009-2010) e secretário-geral do Itamaraty (2003-2009) deu um exemplo prático do impacto dos planos de espionagem dos Estados Unidos na política brasileira. “Ao interceptar as comunicações entre os líderes civis e militares do Brasil, o governo norte-americano tem informações privilegiadas sobre o que está por trás da compra dos aviões da FAB [Força Aérea Brasileira], que é uma licitação sem importância que envolve ao menos R$ 7 bilhões”, ironizou.
Desde o governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), o Brasil analisa a compra de 36 caças para a FAB. Os Estados Unidos disputam a venda das aeronaves com França e Suécia.
Pinheiro Guimarães também elogiou o repúdio expressado pelo Mercosul à espionagem norte-americana, formalizada na Cúpula de Montevidéu na semana passada. “Há uma tentativa recorrente de criticar o Mercosul e a Unasul [União das Nações Sul-Americanas], mas imagine se o tema fosse discutido na OEA [Organização dos Estados Americanos]. Com certeza seria uma discussão pautada pela pressão dos EUA e que não contemplaria nossos interesses”, analisou.
A conferência na UFABC foi iniciada ontem com a presença do chanceler Antonio Patriota. Além dele, também comparecerão ao campus da universidade em São Bernardo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro da Defesa, Celso Amorim, o assessor-chefe da Presidência da República Marco Aurélio Garcia, entre outros.
Via Opera Mundi