Das exportações brasileiras para o Mercosul, 92% são bens industrializados. Se o bloco fosse um "fardo", as exportações brasileiras teriam crescido 55 pontos percentuais acima da média mundial nos últimos 8 anos?
Vinte anos depois da criação do Mercosul, ainda é necessário desmentir os chamados “mercocéticos”, entre eles políticos demotucanos, alguns diplomatas aposentados e jornalistas. Eles alegam que o bloco seria um “fardo” pesado a impedir o Brasil de alçar voos mais altos no comércio exterior, a impedir negociações com outros blocos ou países. Uma alegação tão bombástica quanto vazia.
Afinal, qual foi o grande acordo comercial que os países do Mercosul deixaram de fazer? Com a Alca (Área de Livre Comércio das Américas)? Com a União Europeia?
Qualquer pessoa com um mínimo de conhecimento sobre questões internacionais sabe que não foi esse o caso. Em relação à Alca “ampla” norte-americana, as negociações não prosperaram devido essencialmente à recusa dos EUA em colocar na mesa os seus temas sensíveis, como subsídios agrícolas e antidumping. Ao mesmo tempo, os norte-americanos insistiam em concessões quanto à propriedade intelectual, investimentos e serviços, o que afetaria a capacidade de nossos Estados de promover políticas industriais e de desenvolvimento.
Além disso, a oferta dos EUA em tarifas, apresentada em 2003, discriminava nitidamente o Mercosul. Note-se que o Brasil e o Mercosul fizeram, naquele mesmo ano, a proposta de criação de uma Alca pragmática e realista, restrita à desoneração tarifária estrito senso, o que evitaria o obstáculo desses temas sensíveis, objeto de negociação na OMC (Organização Mundial do Comércio). Os EUA recusaram.
Os mercocéticos também criticam a não assinatura do acordo com a União Europeia. Ocorre que o grande entrave às negociações reside no escandaloso protecionismo agrícola europeu.
Os mercocéticos ignoram que o Mercosul se expandiu bastante em seu entorno regional. Hoje, quase todos os países da América do Sul participam na área de livre comércio do Mercosul; as únicas exceções são Suriname e Guiana. E a Venezuela só não conseguiu ainda a sua adesão como membro pleno devido a resistências políticas que passam ao largo dos interesses de longo prazo dos países da região.
Graças a essa grande expansão, a Associação Latino-americana de Integração (Aladi), que inclui o Mercosul, já absorve cerca de 45% das exportações brasileiras de manufaturados, contrabalançando a concentração de exportações de commodities que se observa em nossos fluxos comerciais com a Ásia e a União Europeia.
Vale observar que, das exportações brasileiras para o Mercosul, 92% são bens industrializados.
Se o bloco fosse um “fardo”, as exportações brasileiras teriam crescido 55 pontos percentuais acima da média mundial nos últimos 8 anos?
Quanto ao Mercosul como um todo, as exportações extrazona, isto é, para terceiros Estados, aumentaram em 200% entre 2002 e 2008, bem acima do crescimento do comércio mundial, que foi de 147%.
No mesmo período, as exportações intrazona aumentaram espantosos 300%. Os investimentos diretos subiram de cerca de US$ 15 bilhões, em 2003, para US$ 57 bilhões, em 2008. Registre-se que esse aumento ocorreu num período no qual não houve privatizações de monta, como no passado, no governo dos mercocéticos.
Na realidade, o Mercosul e a integração regional tornam-se cada vez mais importantes para todos os países membros. Atualmente, a Argentina exporta duas vezes mais para o Mercosul, sem incluir seus membros associados, do que para todo o bloco do Nafta (Tratado Norte-Americano de Livre Comércio, na sigla em inglês).
Cerca da metade das exportações paraguaias estão concentradas no Mercosul. Já o Uruguai exporta cerca de quatro vezes mais para o Mercosul do que para o Nafta.
Essas cifras não acontecem por caso. São fruto, em primeiro lugar, de uma decisão política que nossos países tomaram, no sentido de consolidar e aprofundar a integração regional, que no passado não havia merecido a atenção necessária. São consequência também de algumas profundas mudanças geopolíticas e geoeconômicas em curso no cenário mundial.
Certa vez, Jean Monnet, artífice da União Europeia, foi questionado se não era demasiadamente otimista em relação à integração da Europa. “Eu não sou otimista, eu sou determinado”, respondeu Monnet. Sejamos determinados: o Mercosul é um caminho sem volta.
Afinal, qual foi o grande acordo comercial que os países do Mercosul deixaram de fazer? Com a Alca (Área de Livre Comércio das Américas)? Com a União Europeia?
Qualquer pessoa com um mínimo de conhecimento sobre questões internacionais sabe que não foi esse o caso. Em relação à Alca “ampla” norte-americana, as negociações não prosperaram devido essencialmente à recusa dos EUA em colocar na mesa os seus temas sensíveis, como subsídios agrícolas e antidumping. Ao mesmo tempo, os norte-americanos insistiam em concessões quanto à propriedade intelectual, investimentos e serviços, o que afetaria a capacidade de nossos Estados de promover políticas industriais e de desenvolvimento.
Além disso, a oferta dos EUA em tarifas, apresentada em 2003, discriminava nitidamente o Mercosul. Note-se que o Brasil e o Mercosul fizeram, naquele mesmo ano, a proposta de criação de uma Alca pragmática e realista, restrita à desoneração tarifária estrito senso, o que evitaria o obstáculo desses temas sensíveis, objeto de negociação na OMC (Organização Mundial do Comércio). Os EUA recusaram.
Os mercocéticos também criticam a não assinatura do acordo com a União Europeia. Ocorre que o grande entrave às negociações reside no escandaloso protecionismo agrícola europeu.
Os mercocéticos ignoram que o Mercosul se expandiu bastante em seu entorno regional. Hoje, quase todos os países da América do Sul participam na área de livre comércio do Mercosul; as únicas exceções são Suriname e Guiana. E a Venezuela só não conseguiu ainda a sua adesão como membro pleno devido a resistências políticas que passam ao largo dos interesses de longo prazo dos países da região.
Graças a essa grande expansão, a Associação Latino-americana de Integração (Aladi), que inclui o Mercosul, já absorve cerca de 45% das exportações brasileiras de manufaturados, contrabalançando a concentração de exportações de commodities que se observa em nossos fluxos comerciais com a Ásia e a União Europeia.
Vale observar que, das exportações brasileiras para o Mercosul, 92% são bens industrializados.
Se o bloco fosse um “fardo”, as exportações brasileiras teriam crescido 55 pontos percentuais acima da média mundial nos últimos 8 anos?
Quanto ao Mercosul como um todo, as exportações extrazona, isto é, para terceiros Estados, aumentaram em 200% entre 2002 e 2008, bem acima do crescimento do comércio mundial, que foi de 147%.
No mesmo período, as exportações intrazona aumentaram espantosos 300%. Os investimentos diretos subiram de cerca de US$ 15 bilhões, em 2003, para US$ 57 bilhões, em 2008. Registre-se que esse aumento ocorreu num período no qual não houve privatizações de monta, como no passado, no governo dos mercocéticos.
Na realidade, o Mercosul e a integração regional tornam-se cada vez mais importantes para todos os países membros. Atualmente, a Argentina exporta duas vezes mais para o Mercosul, sem incluir seus membros associados, do que para todo o bloco do Nafta (Tratado Norte-Americano de Livre Comércio, na sigla em inglês).
Cerca da metade das exportações paraguaias estão concentradas no Mercosul. Já o Uruguai exporta cerca de quatro vezes mais para o Mercosul do que para o Nafta.
Essas cifras não acontecem por caso. São fruto, em primeiro lugar, de uma decisão política que nossos países tomaram, no sentido de consolidar e aprofundar a integração regional, que no passado não havia merecido a atenção necessária. São consequência também de algumas profundas mudanças geopolíticas e geoeconômicas em curso no cenário mundial.
Certa vez, Jean Monnet, artífice da União Europeia, foi questionado se não era demasiadamente otimista em relação à integração da Europa. “Eu não sou otimista, eu sou determinado”, respondeu Monnet. Sejamos determinados: o Mercosul é um caminho sem volta.
(*) Médico pediatra, deputado federal (PT-PR) e ex-presidente do Parlamento do Mercosul (http://www.twitter.com/DrRosinha)